sábado, 25 de setembro de 2010

CIDADE QUE EU AMO!!!!

CONHEÇA A MINHA CIDADE









         AS BELEZAS DE ALTER DO CHÃO!!!







             "SANTARÉM DO MEU CORAÇÃO"

Santarém do meu coração
IGREJA DA MATRIZ EM  FRENTE  DA CIDADE
 Santarém é um município brasileiro do estado do Pará. A "Pérola do Tapajós", como ficou poeticamente conhecida a cidade de Santarém, está situada na microrregião do Médio Amazonas, a 36m de altitude, na confluência dos rios Amazonas e Tapajós. Dista 1.369 km da capital do estado (807 em linha reta aproximadamente) e ocupa uma área de 22.887,08 km², com uma população de 276.665.
O clima é quente e úmido com temperatura média anual variando de 25º a 28 °C. Apresenta pluviosidade média de 1.920 mm. As temperaturas mais elevadas ocorrem entre os meses de junho a novembro e o período de maior precipitação pluviométrica é dezembro a maio.

 A SUA HISTÓRIA

A história de Santarém começa com a primeira notícia que se tem do contato do homem "civilizado" e os índios Tupaiús ou Tapajós. Nurandaluguaburabara seria, talvez, o chefe dos Tupaiús, citado pelo monge dominicano Frei Gaspar de Carvajal que fazia parte da expedição de Francisco Orellana pela região, em 1542.
Em 1626, dá-se a chegada dos novos habitantes na região, na maioria portugueses. O Começo da povoação de Santarém foi marcado pela luta de terras entre índios e brancos.
Santarém foi fundada pelo Pe. João Felipe Bettendorff, em 22 de junho de 1661, recebendo o nome em homenagem à cidade Portuguesa de Santarém. Logo ao chegar, o fundador construiu, de taipa, a primeira capela de Nossa Senhora da Conceição. Trinta e seis anos mais tarde, em 1697, ocorreu a inauguração da Fortaleza do Tapajós, numa colina próxima ao Rio Tapajós, para melhor proteção dos ataques de estrangeiros.
A Aldeia dos Tapajós, como era chamada, foi elevada à categoria de vila, em 14 de março de 1758, por Francisco Xavier de Mendonça Furtado, o então governador da Província do Grão Pará, recebendo o nome de Santarém. Foi elevada à categoria de cidade, em 24 de outubro de 1848, em consequência de seu notável desenvolvimento.

                                    TEXTO DE : Wikipédia, a enciclopédia livre.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

FAMÍLIA NA ESCOLA ,DIA DE: AÇÃO NA ESCOLA

FOI UMA ATIVIDADE DIFERENTE,QUE ACONTECEU NO DIA 18 DE SETEMBRO,PELA   COM A COMUNIDADE ESCOLAR COLABORANDO  NA LIMPEZA DA ESCOLA .
NOSSO MUITO OBRIGADA MÃES  QUE SE FIZERAM PRESENTES NESSA AÇÃO .VOCÊS SÃO DEZZZZ!!!

ATIVIDADES DE LEITURA PRIMEIRO ANO -ESCOLA IRMÃ LEODGARD GAUSEPOHL

EM PARCERIA COM O PROJETO CASINHA DA LEITURA , ESSA ATIVIDADE FOI REALIZADA  NO DIA 08 DE AGOSTO COM OS ALUNOS DA PROFESSORA LÚCIA MARIA MAIA PIMENTEL , NA TURMA DO PRIMEIRO ANO.















             MOMENTO DE DESPERTAR NO ALUNO O GOSTO E O FOMENTO PELA LEITURA












DENTRO DO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM  É FUNDAMENTAL QUE O ALUNO DESDE AS SÉRIES INICIAIS, MANTENHA CONTATO COM TUDO QUE DESPERTE NO MESMO O GOSTO PELA LEITURA, SOMENTE ASSIM ACREDITAMOS SER POSSÍVEL TERMOS BONS LEITORES , PRODUZINDO TEXTOS COM CLAREZA DE IDÉIAS E BONS ARGUMENTOS. COM ESSE PENSAMENTO PROPORCIONAMOS AOS NOSSOS ALUNOS UM AMBIENTE ALFABETIZADOR.

COMO PROFESSORA ESTOU SEMPRE BUSCANDO MELHORAR A MINHA PRÁTICA ATRAVÉS  DA FORMAÇÃO CONTINUADA  , COMO DO PRÓ-LETRAMENTO, QUE FIZ EM 2009. DESSA FORMA TIVE OPORTUNIDADE DE TROCAR EXPERIÊNCIAS COM OUTRAS PROFESSORAS E ENRIQUECER A MINHA PRÁTICA PEDAGÓGICA.

CURSISTAS ESTUDANDO NA ESCOLA HILDA MOTA


TURMA DE LINGUAGEM
CONSTRUÇÃO DE LIVRO ARTESANAL
                                        CURSISTAS DO PRÓ-LETRAMENTO /2009










domingo, 19 de setembro de 2010

Especialização em Ciências da Religião- Minha Monografia

INSTITUTO ESPERANÇA DE ENSINO SUPERIOR DE SANTARÉM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA E EXTENSÃOCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO

LÚCIA MARIA MAIA PIMENTEL





FORÇAS E FRAQUEZAS DAS CEB’s, COMUNIDADE DE SANT’ANA, ÁREA “A”, REGIÃO 2 DE PASTORAL DA DIOCESE DE  SANTARÉM – PARÁ




















SANTARÉM
2009 
LÚCIA MARIA MAIA PIMENTEL




FORÇAS E FRAQUEZAS DAS CEB’s, COMUNIDADE DE SANT’ANA, ÁREA “A”, REGIÃO 2 DE PASTORAL DA DIOCESE DE  SANTARÉM – PARÁ







Monografia apresentada ao Instituto Esperança de Ensino Superior – IESPES, como requisito para obtenção do título de Pós-Graduado em Ciências da Religião, orientada pela Esp. Raimunda Barbosa Alves.








SANTARÉM
2009
LÚCIA MARIA MAIA PIMENTEL





TÍTULO:  FORÇAS E FRAQUEZAS DAS CEB’s, COMUNIDADE DE SANT’ANA, ÁREA “A”, REGIÃO 2 DE PASTORAL DA DIOCESE DE  SANTARÉM – PARÁ







PARECER:   

















Aprovado em ______/ ______/ _______


Orientadora


___________________________________________
Esp. Raimunda Barbosa Alves
















































Carinhosamente aos membros das CEB’s de Sant’Ana, que persistem na ousadia de revelar ao mundo uma igreja viva, comprometida com o Projeto de Jesus Cristo.

 
AGRADECIMENTOS





A  Deus, por me abençoar com a vida e com a graça da sabedoria.
Aos meus queridos pais e  irmãos , que sempre me incentivaram nos meus estudos.
 Ao meu esposo Nilo  e ao meu filho Robson  pela compreensão com minha ausência.
A minha orientadora, Raimunda Barbosa Alves, pelo apoio, incentivo e amizade.
Aos comunitários de Sant’Ana, que dispuseram seu tempo  para  colaborar com a pesquisa .
A Paróquia de Cristo Libertador, pelo apoio e material para realização dessa pesquisa.
A todos, que direta ou indiretamente, se fizeram presentes, auxiliando-me a perseguir e conquistar este sonho.







 












































As religiões, assim como as luzes, precisam da escuridão para brilhar.

SchopenhauwerRESUMO
As CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) representam um importante momento na vida da Igreja. Essas comunidades organizadas a partir dos anos sessenta, expressam uma “nova maneira de ser Igreja”, representando na prática uma tentativa de descentralização e democracia na arcaica estrutura dessa Instituição. Objetivou-se neste estudo, analisar de forma crítica e contextualizada como acontece a organização da Área ”A” Região 2 de pastoral e o papel das CEB’s de Sant’Ana , ante os desafios  da missão e suas práticas libertadoras como expressão da “Fé”. Utilizou-se como metodologia, a pesquisa bibliográfica e de campo, através de entrevistas com comunitários que fazem parte das CEB’s de Sant’Ana. Verificou-se que a força das Ceb’s de Sant’Ana acontece na luta, nas ações pastorais  e nas parcerias comunitárias com a associação do seu Bairro AMBS. Outra força das CEB’s em Santana, é a formação das crianças e jovens para os sacramentos, através de uma catequese voltada para a formação cristã e também para a vida. Uma das fraquezas da CEB’s em Santana é a pouca participação da juventude. Porém, aos poucos os jovens estão se organizando e participando das atividades pastorais de sua comunidade. Concluiu-se que o revigoramento das CEBs tem dois pontos de largada e uma única chegada: a formação de comunidades participativas e libertadoras.



Palavras-Chave: Igreja . Comunidades Eclesiais de Base. Teologia  da Libertação . Forças. Fraquezas.


 
ABSTRACT
CEB (Basic Eclesiastic Communities) represents an important process in the history of the Catholic Church in Latin America. These communities, organized in the 1970s, in the time of the military dictatorship, express a new form of church, representing in practice an attempt to review the structures of this Institution, as well as make it possible for more active and conscious participation of the lay people. The object of this work is to annalize in a critical and constructural way and how this CEB organization works concentrating on Area “A”, the community of Sant’Ana, Region 2 of the Pastoral of the diocese of Santarém-Pa. For this, the bibliography method of search was used and also field work. The strength of these ecclesiastical organizations is in the new way of reflecting on the reality of the light of the word of God. The motivating method is to see, think, act and celebrate in away thar directs toward a liberating practice. The weaknesses are seen as a necessary process of the re-elaboration of the presence of this organization in the church and in society. The restrengthening of CEB is through the formation of the participating and liberating communities.


Keywords: church. Basic Eclesiastical Communities. Theology of Liberation Strenght. Weaknesses.




 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO             ..............................................................................................         09
1 COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE        ...................................................         11
1.1 Contexto Histórico             ..................................................................................         12
1.2 Teologia da Libertação..............................................................................                  14
1.3 O que é Comunidade Eclesial de Base....................................................               17
1.4 Diretrizes das CEB’s               ............................................................................         20
1.5 Desafios das CEB’s na atualidade        ..........................................................         26
2 CEBS NA DIOCESE DE SANTARÉM        .......................................................         29
2.1 Contexto histórico da Diocese de Santarém        ..........................................         29
2.2 Implantação das CEB’s em Santarém      ......................................................         33
2.3 Área A              .....................................................................................................         34
3 FORÇAS E FRAQUEZAS DAS CEB’S DE SANT’ANA     ............................         41
3.1 Comunidade de Sant’Ana         .......................................................................         41
3.2 CEB’s do bairro Santana           ........................................................................         43
3.3 Festa de Sant’Ana: Momento de Religiosidade, partilha e comunhão das CEB’s                                                  ....................................................................................         47
3.4 Forças e Fraquezas             ...............................................................................         51
CONCLUSÃO            ................................................................................................         64
REFERÊNCIAS            .............................................................................................         66



INTRODUÇÃO
Grupos de pessoas morando no mesmo bairro se encontram regularmente para refletir a realidade social, à luz da Palavra de Deus.  Iniciam uma caminhada para tomar consciência da situação social e política, executando uma metodologia que leva da conscientização à ação. Baseados no método Ver-Julgar-Agir, colocam em prática a luta por melhores condições de vida.
Inspirados pelas decisões do Concílio Vaticano II (1962-1965) e pela Conferência Episcopal de Medelin (1968), que apontaram para o deslocamento das bases sociais da Igreja, esses núcleos eclesiais de fé despontam vislumbrando uma maior participação dos leigos e um processo mais participativo destes na tomada de decisões.
As CEB’s (Comunidades Eclesiais de Base) constituem-se desse modo numa experiência pastoral e num fenômeno fecundo e questionador das estruturas do catolicismo. Essas comunidades surgiram apresentando novas perspectivas de ação dentro da Igreja Católica e quando assumidas por importantes setores desta instituição, transformaram sua estrutura, renovando-a e colocando-a em contato com a realidade social. Por essa razão esse movimento vem recuperar, com bastante dinamismo, o discurso e a prática libertária do cristianismo primitivo, que permaneceram obscurecidos por séculos de alinhamento com o poder estabelecido.
A diocese de Santarém ao longo dos anos, vem crescendo significativamente em sua organização, envolvendo o trabalho leigo na evangelização, no planejamento e na efetivação de seus projetos. Percebe-se que a Igreja Diocesana hoje, com suas regiões e áreas pastorais tem assumido o compromisso de ser “Igreja Viva”, que reúne, organiza, dinamiza, celebra e caminha buscando a vivência fraterna e solidária, mesmo diante da realidade complexa e desafiadora da nossa sociedade.
A organização de uma Igreja é fundamental para envolver a participação dos fiéis nos trabalhos pastorai. Nesse contexto o estudo que nos propomos fazer abordará historicamente o fenômeno das CEB`s na América Latina, culminando para alguns aspectos característicos destas comunidades na Diocese da Santarém, especificamente na Área “A”, região 2 de pastoral, formada por nove comunidades, pertencentes à paróquia de “Sant’Ana”.
Para tanto far-se-á uma análise qualitativa e descritiva sobre a história das CEB’s da Comunidade de Sant’Ana, destacando suas forças e suas fraquezas através do resgate histórico ao longo de seus 60 anos de lutas e conquistas, assim como o papel deste novo modelo de ser igreja na evangelização.
Diante do exposto questiona-se como acontece a organização da área “A” Região 2 de Pastoral na missão evangelizadora, assim como a mística e atuações das CEB’s da comunidade de Sant’Ana, sua história, suas lutas, suas conquistas e suas dificuldades ao longo dos anos, e papel missionário dos leigos, suas resistências e atuações sócio-políticas. Quais os caminhos e a real consistência dessas comunidades a partir da fé e da Teologia da Libertação como teoria, na práxis das CEB’s?
Nesse prisma, a relevância dessa pesquisa servirá de suporte para todos aqueles que buscam entender a fé cristã na vivência comunitária e na evangelização através da experiência libertadora a serviço do reino, ante os desafios da sociedade atual.



1. COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
1.1 Contexto Histórico
Sabe-se que essa nova forma de ser Igreja acontece a partir do Vaticano II, com as Conferências de Medellín e Puebla, quando foi conferido ao Cristianismo a força de se fazer uma história diferente. Com essa abertura a Igreja Católica envolve-se novamente com o mundo e sua totalidade, com essa nova idéia entre Igreja e mundo a fé cristã ganha espaço, tempo e lugar na história, perpassando pelo âmbito meramente subjetivo como era visto no século XIX, ressaltando a interpretação do Evangelho na sua dimensão política e social, assim como a sua importância para a transformação da sociedade através de uma prática devocional nas comunidades de base.
Nesse sentido com essas mudanças na Igreja o cristão percebeu que era hora de ir ao encontro do mundo, comprometer-se com ele e com a missão. Sabe-se que essas idéias libertadoras na década de 60 saem de meras discussões acadêmicas eclesiásticas e passam a ser práticas, diante das opressões, dominações e explorações que o povo principalmente da América Latina estava vivendo, assim sendo as CEB’s surgem com um novo rosto da Igreja do Povo de Deus . Como se pode perceber no Documento de Aparecida (2007) relata a opção preferencial pelos pobres:
Dentro dessa ampla preocupação pela dignidade humana, situa-se a nossa angústia pelos milhões de latino-americanos e latino-americanas que não podem levar uma vida que corresponda a essa dignidade. A opção preferencial pelos pobres é uma das peculiaridades que marca a fisionomia da Igreja latino-americana e caribenha. De fato, João Paulo II, dirigindo-se ao nosso continente, sustentou que “converter-se ao Evangelho, para o povo cristão que vive na América, significa revisar todos ambientes e dimensões de sua vida, especialmente tudo o que pertence a ordem social e à obtenção do bem comum. (DA;391)
Conforme o documento da Paróquia de Cristo Libertador “Histórico das Ceb’s”: O 1º Intereclesial aconteceu em Vitória do Espírito Santo, de 09 a 08 de janeiro de 1975. O Tema foi: “A Igreja nasce do Espírito de Deus”. Com a participação de 70 pessoas de 11 dioceses. Havia uma preocupação com a dimensão política, ministérios, religiosidade popular, o jeito de trabalhar com o povo, que buscam a superação das dificuldades vivenciadas em seus grupos pastorais.
Nota-se que a cada encontro o número de participantes nos Intereclesiais aumentam, mostrando dessa forma a preocupação e a abertura da Igreja com a formação das lideranças de base. Em julho de 2009 acontecerá o 12º Intereclesiais de Ceb’s, na Amazônia, em Porto Velho Rondônia com o tema: Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia. Esse encontro tem entre outros objetivos resgatar a dignidade dos seres que povoam a Amazônia com toda sua biodiversidade, mostrando que é possível viver em comunhão com o meio ambiente.
De acordo com os documentos da Paróquia Cristo Libertador,  Área A, Região II de Pastoral, as Comunidades Eclesiais de Base – CEB's, iniciaram no Brasil, por volta dos anos 50 e 60, com a crise da Paróquia e a falta de padres, através das várias iniciativas pastorais. As primeiras experiências surgem a partir da Catequese Popular de Barra de Piraí, em Natal, Rio Grande do Norte, o Movimento de Educação e Base – MEB e a Ação Católica Operária.
Nas décadas de 1970 e 80, as CEB's se espalharam por todo o país, desafiando a ditadura instalada. Hoje, porém, em tempos de democracia e neoliberalismo, muitos nem se lembram dos difíceis anos da ditadura e nem participaram do processo de democratização do país.
Segundo Leonardo Boff (1991), direta ou indiretamente essas novas comunidades, contribuíram de diferentes maneiras para o processo de redemocratização que começava a se articular no país. Eram grupos de pessoas que, morando no mesmo bairro ou povoados, se encontravam para refletir e transformar a realidade, à luz da Palavra de Deus, utilizando uma expressão comum nesse meio, e das motivações religiosas. Surge a partir daí, o nome de Comunidades Eclesiais de Base (CEB's). Começavam também a reivindicar pequenas melhorias nos bairros, e ao mesmo tempo, iniciavam uma caminhada para tomar consciência da situação social e política. Baseadas no método Ver-Julgar-Agir, colocaram em prática a luta por melhores condições de vida.
De acordo com Faustino Teixeira (1988, p. 181), "(...) nos anos 70 e início dos 80, falava-se muito no impacto da atuação das Cebs no campo sócio-político, enquanto geradoras de uma nova consciência das camadas populares e fator de grande importância no processo de libertação dos pobres”. Essas pequenas comunidades cristãs, com número variável de participantes (entre 20 a 100 membros), eram consideradas uma nova organização popular, capaz de reverter a situação de pobreza e apontando para uma nova sociedade mais justa e fraterna.
Para Martina (1997), especificamente no interior da Igreja Católica, as Cebs queriam rever uma estrutura muito piramidal e autoritária que cerceava a participação popular e impunha decisões de cima para baixo. Incentivadas pelas decisões do Concílio Vaticano II (1962-1965) e pela Conferência Episcopal de Medelin (1968), que apontaram para o deslocamento das bases sociais da Igreja, estas comunidades vislumbraram uma maior participação dos leigos e um processo mais participativo na tomada de decisões. Ao redor da imagem que a Igreja é ‘povo de Deus’, como caracterizou o Concílio, e não mais sociedade hierárquica, as comunidades sentiram-se parte ativa na construção do Reino de Deus.
O elemento detonador das Cebs no Brasil foi exatamente a experiência única e marcante do Vaticano II. Este Concílio revelou seu potencial pastoral em sua abertura para o mundo e para a história e, ao mesmo tempo, sua densidade de reflexão, postulando a imagem da Igreja como sendo o ‘povo de Deus’ a caminho. O Vaticano II também contribuiu para criar um clima de autocrítica no interior da Igreja. Vários movimentos com tendências progressistas ganharam mais espaço e legitimidade, tais como o movimento bíblico, teológico, litúrgico, etc. (TEIXEIRA, 1988, p. 67)
Houve quem aplaudisse e quem desqualificasse tais atitudes, como algo que ameaçasse destruir a estrutura de dois mil anos da Igreja. Falava-se, como Leonardo Boff (1991), da prioridade do carisma sobre a instituição e usava-se o método das ciências sociais para analisar a Igreja. Substituir a tradicional filosofia pelas ciências sociais representava o risco de introduzir a análise marxista dentro da Igreja. Começou-se, então, a falar do perigo comunista na Igreja e muitos ficaram alarmados, principalmente porque se vivia o período da Guerra Fria e a histeria anticomunista tomava conta da sociedade.
A questão central naquele momento era a necessidade da Igreja de se posicionar em relação aos problemas sociais. “(...) A questão não é saber se reconhecemos ou negamos a luta de classes, mas de que lado nos situamos e quais solidariedades ou cumplicidades escolhemos” (CASALIS apud GUIMARÃES, 1987, p. 70).
As Cebs responderam plenamente à essas questões e mostraram com muita perseverança que a sua mensagem veio para ficar, colocando-se ao lado dos oprimidos de nossa sociedade e assumindo a evangélica ‘opção preferencial pelos pobres’ defendida por Puebla. (BOFF, 1991, p. 51)
As primeiras experiências destas comunidades no Brasil surgem por volta dos anos 50 e 60, com a crise da Paróquia e a falta de padres, através das várias iniciativas pastorais. Através da Catequese Popular de Barra de Piraí, em Natal, Rio Grande do Norte, do Movimento de Educação e Base – MEB e da Ação Católica Operária.
Nos dias atuais, porém, devido a própria conjuntura político-econômica e eclesial, marcada principalmente pela ascensão das forças conservadoras no interior da Igreja, as comunidades eclesiais de base, se encontrem em refluxo, reelaborando sua própria presença na sociedade.

1.2 Teologia da Libertação
Entende-se ser a Teologia da Libertação o lócus da experiência religiosa que interfere na metamorfose da identidade dos sujeitos/participantes desta pesquisa, que têm a sua militância orientada por uma Teologia que faz opção pelos pobres, pelo coletivo, em oposição a uma Teologia, como dito anteriormente, tradicional/conservadora; a Teologia da Libertação tem como foco a transformação social – fundamentada no método de análise marxista.
A expressão “teologia da libertação”, já mostra o sentido norteador deste discurso teológico. O genitivo que aparece na expressão citada – DA LIBERTAÇÃO –, mostra-nos que a libertação é o horizonte regulador do discurso acerca de Deus, e, ao mesmo tempo, mostra-nos que o Deus do discurso é fonte de libertação. Esta se manifesta concretamente nos diversos momentos do processo histórico de um povo. Conseqüentemente, a teologia da libertação torna-se força geradora de ações que viabilizam uma práxis libertadora, segundo as necessidades advindas das diversas circunstâncias sob as quais um povo está submetido.
“A teologia da libertação é um movimento teológico que quer mostrar aos cristãos que a fé deve ser vivida numa práxis libertadora e que ela pode contribuir para tornar esta práxis mais autenticamente libertadora” (MONDIN, 1980, p. 25). Neste sentido, o cristão é impelido a viver a práxis libertadora nas diversas épocas da história.
O termo libertação foi cunhado a partir da realidade cultural, social, econômica e política sob a qual se encontrava a América Latina, a partir das décadas de 60/70 do último século. Os teólogos deste período, católicos e protestantes, assumiram a libertação como paradigma de todo fazer teológico. Vejamos o quadro social da América Latina no período originário da teologia da libertação:
O ambiente político é geralmente caracterizado pela presença de governos que administram o poder arbitrariamente em vantagem dos ricos e dos poderosos, fazendo amplo uso da força e da violência. (...) O ambiente econômico e social está marcado pela miséria e pela marginalização da maior parte da população. Os recursos econômicos são controlados por um pequeno grupo de privilegiados. (...) No ambiente cultural se verifica ainda uma notável dependência da Europa e dos Estados Unidos. Na ciência como na filosofia, na arte como na literatura, quase nada é concedido à originalidade das populações latino-americanas. (MONDIN, 1980, p. 25-26).
O quadro de degradação apresentado na América Latina é o fundamento gerador do conceito de libertação. A libertação, então, é toda “ação que visa criar espaço para a liberdade” (BOFF, 1980, p. 87). Ser livre, neste sentido, é não estar sob o jugo da lei alheia; é poder construir-se autonomamente. O processo histórico da América Latina foi e é dominado por diversas leis estranhas a ela. A América do Norte, em especial os EUA, e os países europeus, sempre impuseram aos latino–americanos seus valores, suas políticas, sua cultura, etc. Neste sentido, a libertação no seio da América Latina, é a luta pela liberdade da cultura, dos valores, da economia, da política latino-americanos, frente às diversas opressões advindas de um modelo imperialista que rege a práxis do hemisfério norte em suas relações com o hemisfério sul, especialmente como o povo latino–americano. Tal relação impõe ao hemisfério sul a cultura do hemisfério norte.
Segundo Boff (1980) o que inova é que agora há uma consciência coletiva, bem como estratégias de solidariedade. A igreja associava-se às classes dominantes e por meio delas chegava ao pobre, com uma postura paternalista e assistencialista que socorria momentaneamente, mas não utilizava a própria força do pobre para deflagrar um processo de transformação. Agora a estratégia é a de associar-se às lutas dos pobres e constituir comunidades de base cujo objetivo é a experiência cotidiana da fé em sua dimensão social, política e libertadora.
Dessa maneira, a Teologia da Libertação se dá como práxis, no cotidiano da comunidade. Depende de conhecimento e análise crítica dos mecanismos produtores da miséria e da exclusão social. A pobreza deve ser entendida como produto das estruturas econômicas, políticas e sociais. A ação, portanto, deve atender ao total das forças sociais, de acordo com o que é permitido pela realidade, pelas condições concretas de existência.
Devido a sua dimensão simbólica, a igreja deve articular-se com forças sociais objetivas que atuem na esfera política e de infra-estrutura e, em nome da consciência e da fé, propor um processo em que todos participem. Isso afetou diretamente a identidade dos sujeitos religiosos da época, principalmente no que chamaremos mais adiante de identidade política que concretiza uma política de identidade.
Histórica e tradicionalmente, as instituições religiosas sempre foram fontes de produção de sentido. (...) A identidade de um povo se apóia no consenso que se estabelece em torno dos sentidos que constituem sua cultura. Ou seja, identidade é sempre articulação atual (presente) da tradição (passado) com a inovação (futuro). Por isso, os grupos religiosos modernos não defendem mais formas teocráticas de exercício do poder político, nem precisam disso. Basta-lhes ter garantida a liberdade religiosa, de modo que possam difundir os significados que defendem, com base em argumentos políticos e não mais religiosos, necessariamente. Incorporados pela maioria da população numa sociedade democrática, esses significados vão constituir os sentidos que orientam a vida das pessoas nessa sociedade, ou seja, constituem as subjetividades individuais (CIAMPA, 2003, pp. 9-10).
Embora esteja embasada na economia, na política e no social, a proposta de um processo de libertação contém em si mesma uma visão mais integral, ampla e profunda da existência humana e de seu processo histórico.
De acordo com Boff (1980), o paralisante está na própria linguagem. A hermenêutica é a técnica de interpretação que permite compreender o sentido original dos textos ou das realidades.
(...) onde a análise social diz pobreza estrutural, a fé vai dizer pecado estrutural; onde a análise diz acumulação privada da riqueza, a fé vai dizer pecado de egoísmo, e assim por diante (BOFF,1980, p. 17).
A Teologia da Libertação surge como um movimento que tem como objetivo a libertação da América Latina de uma ideologia opressora e desumana de ditadura e violência e instaurar uma nova ordem social, compreendida no momento, como projeto libertário com tendências sociais, econômicas e políticas igualitárias e emancipatórias.
De acordo com Boff (1980), foi através dessa teologia, oposta à doutrina tradicional da Santa Igreja, que se formaram diversos núcleos dos que hoje se denominam, eufemisticamente, movimentos sociais ou populares, como o MST, os sem-teto, as CEB's, o movimento dos negros, a CUT, o movimento indigenista, etc. Todos eles, propugnadores da concepção comunista da luta de classes, por vezes apresentando-se como luta de raças, buscando sempre os direitos do homem, tendo como palavra de ordem, o Evangelho.

1.3 O que é Comunidade Eclesial de Base
As Comunidades Eclesiais de Base se definem justamente pela articulação dos termos que o seu próprio nome traz. Trata-se de uma comunidade, um conjunto de 20, 30 e até 100 pessoas que estão unidas por laços de solidariedade segundo a localização sócio-geográfica (pessoas de um mesmo bairro, localidade rural etc.); é eclesial, porque são membros de uma mesma igreja e comungam de uma mesma fé, no caso católica; e de base, porque do ponto de vista sociológico apresentam características de uma assembléia permanente e regular que constituem uma igreja local, mas que do ponto de vista da Teologia da Libertação, são “um povo oprimido que comunga dos mesmos sofrimentos em comunidade”. Como afirma G. Gutiérrez:
Base significa o povo pobre, oprimido e crente: raças marginalizadas, classes exploradas, culturas desprezadas, e assim por diante. É a partir delas que essas comunidades cristãs estão surgindo. Destes setores pobres e oprimidos, o Espírito está fazendo nascer uma Igreja enraizada em ambiente de exploração e na luta por libertação. Essas comunidades cristãs não são organizações paralelas operando ao lado daquelas do movimento do povo. São antes comunidades e uma Igreja formada por pessoas envolvidas naquele movimento que procura viver sua fé e partir o pão juntos nessas comunidades. (GUTIÉRREZ apud REGAN 1995, p. 189)
As Comunidades Eclesiais de Base surgem como espaços de fortes laços de solidariedade e de formação da consciência crítica das camadas pobres, onde pessoas começam a expressar as suas opiniões e angústias do dia-a-dia. Como diz o refrão de um canto bastante conhecido das CEB's: “De repente nossa vista clareou, clareou, clareou. Descobrimos que o pobre tem valor, tem valor, tem valor”. A comunidade é o espaço da auto-estima, onde as pessoas se sentem valorizadas e encorajadas a enfrentar os seus problemas pessoais, mas de forma coletiva, como diria Durkheim (apud PRANDI, 1996, p. 31) “o indivíduo ganha sua força e vida no coletivo”.  Sua forma de religiosidade é fortemente centrada nos aspectos coletivos. 
De acordo com Prandi (1996), as CEB's podem ser também compreendidas como um “tipo-seita” no sentido do conceito formulado por Weber. Trata-se de um tipo ideal de organização religiosa. É uma construção teórica que nem sempre encontramos na realidade da mesma forma como aparece na teoria, é um recurso metodológico que permite exacerbar certos traços que tornam claro o problema. Do mesmo modo que no tipo “seita”, encontramos nas CEB's, o lugar ocupado pelo leigo, a pregação da Bíblia feita por leigos, a importância deste Livro Sagrado como fonte de inspiração; o auxílio mútuo, a solidariedade, o engajamento pessoal – como característica de associação voluntária; a responsabilidade coletiva; o fato de pertencerem ao mesmo grupo e estarem no meio de classes populares, de pobres; afinidades eletivas com as estruturas democráticas – o caráter democrático das relações internas- ou até mesmo as afinidades eletivas pelas mesmas condições sociais.
Outro elemento importante, é que as CEB's não negam o mudo que está aí, mas considera que é preciso fazer “o Reino de Deus acontecer aqui e agora” transformando-o por meio da ação política e por uma postura de vida coerente. Nas CEB's fé e vida não são separadas, trata-se, portanto, de “uma ética voltada para a racionalização sistemática entre Deus e o mundo” (PRANDI, 1996, p. 95).
Há uma racionalização da relação com o sagrado, a consciência passa ser o elemento de mediação com o sagrado, o ator social que se legitima como esfera de mediação com o sagrado não é o indivíduo, mas o grupo, o coletivo. Neste sentido, há uma tensão com o catolicismo tradicional, no qual ser cristão não é uma opção pessoal e sim uma herança cultural, neste tipo de catolicismo os santos assumem a função de mediação entre o homem e o sagrado. De acordo com Steil (1997), a tensão com as CEB's se dá justamente no momento em que a comunidade não é mais vista como algo natural, mas que se constrói na insistência dos fiéis que quotidianamente tecem teias de significados que sustentam a opção da comunidade pelo comprometimento em transformar a realidade social em que vivem.
A ética das CEB's, pautada no compromisso político inspirado em concepções teológicas que racionalizam a relação entre Deus e o mundo, está muito presente no início da história da CEB's. Pouco espaço restou para uma relação mística da religião. A ênfase exagerada em certos momentos na política, no social sufocou a presença do emocional, da relação mágica entre o mundo e Deus. No entanto, este caráter racionalizador das CEB's deve ser relacionado com outras esferas da vida religiosa católica, uma vez que o discurso dos intelectuais (Teólogos da Libertação) nem sempre acontecem na prática.
Há uma característica muito peculiar entre os católicos, qual seja: o seu caráter migratório na experiência religiosa dentro da própria Igreja Católica; ao mesmo tempo em que um fiel participa de uma CEB, freqüenta a Legião de Maria, o Apostolado da Oração, participa da Pastoral da Criança, do Grupo de Oração Carismática. Embora este trânsito entre os diversos movimentos e pastorais, às vezes seja conflituoso justamente pelas visões de mundo e formas de ação evangelizadora que cada grupo tem.
Esta ética encontra barreiras fortes no momento atual em que formas de religiosidades centradas no individualismo são hegemônicas, exemplo disso é a própria Renovação Carismática Católica que nos últimos anos tem crescido rapidamente o número de fiéis, e que se caracteriza como uma forma pentecostal dentro da própria Igreja Católica e que como diz Prandi (1996) está bem mais perto da magia do que da política. Neste sentido, cada vez mais encontramos católicos que afirmam o seguinte: “a gente vai à Igreja para ouvir o padre falar de coisas boas, de Deus, mas só fala de política, de fome, de miséria, parece até que não é uma missa!”; então: “cansei de ouvir falar sobre política na Igreja, sentia um grande vazio espiritual, foi no grupo de oração que encontrei o sentido da minha vida”.
No entanto, o que observamos cada vez mais nas CEB's com o passar dos anos e depois da política ofensiva do Vaticano para controlar a ação das CEB's, seja através das retaliações a Teólogos da Libertação (principalmente a Leonardo Boff); da transferência de bispos progressistas de Dioceses com forte experiência na “igreja popular”; ou ao contrário nomeação de bispos conservadores não muito “amantes” das CEB's; da reparoquialização; percebemos que há um refluxo deste movimento popular católico, “o novo jeito de ser Igreja”, tão cantado nas comunidades aponta para uma tendência de incorporar uma espiritualidade mística, em que o homem está em contato profundo com o divino. Na década de 90, os diversos encontros de CEB's no âmbito nacional, regional e local têm trabalhado a dimensão espiritual das CEB's, ganha força a idéia de que se precisa trabalhar a dimensão social, dimensão humana e espiritual do “povo de Deus”, bem como a mística de fé integralmente. Além disso, a metodologia das Cebs, Ver-Julgar-Agir, herdada da Ação Católica do final da década de 50, e adotada por outros movimentos e pastorais da Igreja Católica, ganha dois novos elementos: Avaliar e Celebrar, como forma de enriquecer a dinâmica das atividades educativas das CEB's.

1.4 Diretrizes das CEB’s
Uma das dimensões básicas das Comunidades Eclesiais de Base é o compromisso eclesial. A CNBB, no documento sobre as CEB's do Brasil, enfatiza essa dimensão citando a mensagem de João Paulo II aos líderes da CEB's, na qual se afirma que
(...) entre as dimensões das Comunidades Eclesiais de Base, julgo conveniente chamar a atenção para aquela que mais profundamente as define e sem a qual se esvairia sua identidade: a eclesialidade. Sublinho essa eclesialidade, porque está explícita já na designação que, sobretudo na América Latina, as comunidades receberam. Ser eclesial é sua marca original e seu modo de existir e operar. (CNBB, 1974, p. 25)
Segundo Leonardo Boff (1991, p. 87), há quatro os elementos que constituem a eclesialidade das CEB's: “a fé, a celebração, a comunhão e a missão. A partir da pesquisa, é possível, antes de tudo, avaliar os primeiros dois elementos através da freqüência às celebrações e a leitura bíblica”. A fidelidade sacramental é acompanhada pela fidelidade bíblica. A fé – expressa pela leitura da Bíblia - e a celebração constituem elementos constitutivos da Igreja e reforçam a idéia de que as Comunidades de Base representam uma realidade profundamente eclesial.
O terceiro elemento da eclesialidade é constituído pela comunhão. Esta é identificada, comumente, com a submissão ou obediência aos pastores e ao Magistério eclesiástico. No entanto, Leonardo Boff (1991, p. 88) aponta para uma visão mais ampla da exigência da comunhão: “na Igreja-toda-Povo de Deus vigora um fraternismo evangélico que se expressa pela complementaridade das funções e pela superação da rígida divisão eclesiástica do trabalho; ninguém detém o monopólio de ensinar, mas todos aprendem um do outro, sendo todos discípulos do único Mestre Jesus (cf. Mt. 23,10)”. O modelo da Igreja-comunhão, na opinião do teólogo, se contrapõe à Igreja-sociedade que é estruturada desta forma: “por um lado o clero a quem cabe e gerência do sagrado e a condução da vida eclesial e por outro a massa dos fiéis, fregueses de paróquias e participantes de movimentos que não afetam a estrutura eclesiástica” (BOFF, 1991, p. 84).
A presença da comunhão nas comunidades pode ser avaliada a partir da pergunta sobre a função que os membros desenvolvem no interior da comunidade ou paróquia. Deve ser considerada de forma positiva a presença, nas reuniões de preparação da Assembléia diocesana, de pessoas que não têm uma tarefa específica no interior da paróquia ou comunidade. Esse fato evidencia a ligação com a Igreja e, talvez, o desejo de um maior engajamento em atividades pastorais.
Por outro lado, de um ponto de vista eclesiológico, a forte presença de fiéis que se auto-avaliam como simples receptores aponta para o modelo de Igreja-sociedade que parece antiético com a eclesiologia de comunhão do Concílio Vaticano II. Esta, mesmo não negando a diversidade de carismas e ministérios presentes na comunidade eclesial (cf. LG 12), enfatiza a natureza missionária da Igreja enquanto Povo de Deus (cf. LG II; AG 2), valorizando o protagonismo dos leigos (cf. LG 33) e reconhecendo-lhes a participação aos tria munera (cf. LG 34-36), a vocação à santidade (cf. LG 63) e a igualdade de dignidade (cf. LG 32). Desta forma, o Concílio Vaticano II propõe uma Igreja toda ministerial, onde o protagonismo de todos os membros frutifica os inúmeros e universais dons do Espírito Santo.
A partir destas reflexões, pode-se inferir que o expressivo número de “simples membros” presentes nas CEB's e, de forma maior, no restante das forças vivas diocesanas, aponta para uma recepção insuficiente da eclesiologia conciliar. No entanto, é bom esclarecer que falar de recepção insuficiente não significa sustentar a total ausência. Oliveira (1994) mostra também dados mais condizentes com uma eclesiologia de comunhão, como, por exemplo, “a presença de numerosos animadores de pastoral, sobretudo nas Comunidades de Base, onde eles constituem 34% do total, contra 14% das demais forças vivas da diocese” (OLIVEIRA, 1994, p. 643). Neste sentido, apesar das dificuldades, a caminhada das CEB's aparece como um instrumento valioso para a tomada de consciência, por parte dos leigos e das leigas, acerca da estrutura ministerial da Igreja e a superação de formas de dependência e passividade.
A comunhão se manifesta também no diálogo com outros segmentos eclesiais. O próprio Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi, alerta as CEB's do perigo:
(...) se considerarem como destinatário único ou como o único agente de evangelização – ou por outra como o único depositário do Evangelho! -; mas conscientes de que a Igreja é muito mais vasta e diversificada, aceitem que esta Igreja se encarna de outras maneiras, que não só através delas. (EN 58).
Na realidade, o pertencimento a uma CEB não impede a possibilidade da participação em movimentos e associações. Neste caso, a definição das CEB's como unidade estruturante parece responder mais à realidade do que a definição como pequeno grupo de base. Segundo Oliveira (1994), a CEB pode, portanto, ser interpretada como uma nova forma relacional e estruturante da comunidade eclesial, onde os conselhos comunitários constituem a principal referência pastoral. Esta estrutura da comunidade não impede a presença de movimentos e associações no seu interior. Nesta ótica, o risco de fechamento apontado por Paulo VI parece, no mínimo, reduzido.
No entanto, esses dados podem ser interpretados também de uma forma mais crítica. Entre os movimentos e associações presentes nas CEB's há alguns que podem ser considerados em linha com o carisma das CEB's, seja pela preocupação com o social que pela ligação com o catolicismo popular. Por outro lado, há outros movimentos cujo carisma parece muito distante, senão antiético, com a práxis libertadora e participativa das Comunidades de Base. Neste sentido, deve-se avaliar de que forma e em detrimento de quê se dá a aproximação entre segmentos pastorais tão diferentes.
A quarta exigência da eclesialidade, segundo Leonardo Boff, é a missão. Esta se concretiza de duas formas: através da profecia, na qual a Igreja anuncia o Reino de Deus e denuncia as forças necrófilas, e através da pastoral que, na América Latina, deve ser libertadora, promotora dos direitos dos pobres e de comunhão e participação.
Ao ver de Clodovis Boff (1999), o compromisso sócio-libertador é uma característica fundamental das CEB's, junto com a participação na vida da Igreja e a centralidade da Bíblia confrontada com a vida. Se ad intra as CEB's são participativas e democráticas. Ad extra, elas são profundamente comprometidas nas lutas populares, em defesa da dignidade dos pobres e excluídos. Na opinião do teólogo, a luta social é uma característica intrínseca à dinâmica interna das CEB's:
A dinâmica das CEB's leva para o social. As CEB's estão constitucionalmente abertas para lá. Há nelas uma disposição, tendência ou exigência para um compromisso crescente que pode chegar inclusive ao nível partidário. Isso provém em grande parte da relação constitutiva ou, pelo menos da hermenêutica popular das CEB's: o confronto fé-vida, ou Bíblia-realidade. (BOFF, Clodovis, 1999, 273)
A relação entre CEB's e compromisso social é “constitutiva”, pois conseqüência das dinâmicas da vida interna das comunidades. O protagonismo de todos os membros, a leitura popular da Bíblia e a ligação entre fé e vida promovem a conscientização sócio-política dos membros das comunidades favorecendo o compromisso libertador.
Não se pode negar que, na vida eclesial, existam atividades voltadas mais para a manutenção interna das comunidades e outras especificamente relacionadas à presença da Igreja na sociedade. Um desequilíbrio entre essas atividades pode ser sinal de acentuações unilaterais e, por isso, redutivas da prática evangelizadora. No caso das CEB’s a problemática é ainda mais grave por constituir, o compromisso sócio-transformador, um traço essencial do próprio carisma.
De acordo com Boff (1999), as CEB’s, pelo próprio carisma, deveriam ser a locomotiva da diocese neste setor. Entretanto, a análise do engajamento nas Pastorais Sociais e em entidades sócio-políticas não eclesiais revela que não há substancial diferença entre os membros das Comunidades e os de outros movimentos e associações. Talvez este seja o principal desafio das Comunidades de Base, pois mexe com o centro do carisma e não com alguma atividade periférica.
Diante dessa situação, cabe refletir sobre as causas do compromisso social limitado, intra e extra-eclesial. Se for verdade que o engajamento libertador é uma tendência que nasce das próprias dinâmicas internas das CEB's, deve-se perguntar se não haja a necessidade de revigoramento ou revisão de algumas práticas comunitárias. 
Deve-se, por outro lado, reconhecer que o engajamento social não pode ser reduzido à participação em partidos, sindicatos ou movimentos populares. O compromisso libertador abrange também as relações pessoais e interpessoais. A transformação da sociedade passa também pelo micro, pela vida cotidiana, pelo dia-a-dia das pessoas. É evidente, contudo, que tudo isso não pode ser desenvolvido em detrimento das lutas estruturais. Não é a mesma coisa valorizar a dimensão interpessoal da libertação enquanto forma de complementação e fazê-lo como fuga ou desilusão em relação às lutas populares. Torna-se fundamental, neste sentido, uma articulação entre o compromisso no micro e no macro.
Outro dado que merece um breve comentário é o fato de que nas CEB's o compromisso em Pastorais Sociais é mais significativo do que o compromisso em entidades não eclesiais. Isso pode esconder a tentação da “fuga do mundo”, ou seja, da renúncia à construção do Reino. A própria ligação entre fé e vida – carisma básico das CEB's – pode ficar prejudicada. Mesmo reconhecendo os problemas e os conflitos que podem nascer da colaboração ou do engajamento direto das CEB's em entidades não cristãs, deve-se reafirmar que “os movimentos populares, as promoções de bairro, os ambientes de trabalho e convivência são campos a serem fermentados pelas CEB's com o fermento e as energias do Evangelho com relação à liberação integral do homem” (BOFF, Clodovis, 1999, p, 77).
Segundo Paleari (1990), as CEB's, porém, recuperam elementos da antiga tradição católico-popular. O exemplo mais claro é a participação dos leigos como principais agentes de animação religiosa na comunidade. Outro elemento é a dimensão política da ética religio­sa. Aqui, também, a idéia de uma ordem celestial inspira uma ética para as relações sociais e políticas. A diferença é que a ordem celestial contesta e não legitima tanto a ordem so­cial e política terrena.
A transferência dos santos para Jesus, sua prática e seu Reino possibilitam a construção de uma utopia: o Reino de Deus, uma sociedade justa e fraterna.Os santos também estão presentes, mas são substituídos pelos mártires da caminhada, associados ao processo do martírio de Jesus.
No entanto, esse catolicismo tipo CEB's, mesmo assentado sobre as raízes da antiga tradição católica, é minoritá­rio. Pode ser que atinja 6% dos católicos no Brasil. A grande massa pertence ao catolicismo privatizado.
Percebe-se que as Comunidades Eclesiais de Base não podem se afirmar, impondo o próprio método. A pedagogia dos agentes das CEB's, caracterizada pelo contato de pessoa por pessoa e visando a uma mudança de consciência, não se combina com um trabalho tipicamente de massa. Esse último visa a atingir, de uma só vez, um grande número de pessoas, não para conscientizá-las, mas para orientá-las praticamente. Na ação de massa, o que contam são os gestos, os símbolos, aquilo que provoca emoções. Deve partir do que já possuem, para serem confirmadas.
Há quem diga que as CEB's vão conseguir ser majoritárias, se multiplicarem por dez o trabalho de base. Essa é uma postura parecida com a que diz: "Convertendo as pessoas, mudam-se as estruturas".
Elas devem continuar sendo fermento na massa e não favorecerem uma nova cristandade. No entanto, o catolicismo de massa e o desafio que ele representa, não é indiferente para as CEB's. Segundo Pedro de Oliveira (apud PALEARI, 1990), dois elementos são fundamentais na resposta a esse desafio por parte das Comunidades Eclesiais de Base: A confiança: conquista a massa quem sabe manipulá-la (fazendo-a crer que seus interesses estão sendo atendidos) ou quem, efetivamente, compartilha os mesmos interesses da massa.
Aqui, há um problema para as CEB's. A massa não tem confiança em comunidades formadas por gente do próprio povo. Algo, porém, já mudou quando padres, religiosas e bispos se inseriram no meio popular. A caminhada das CEB's tem facilitado, em muitos casos, essa conquista de confiança da massa.
O bom uso dos símbolos é um segundo elemento, visto que a mudança de símbolos (principalmente quando são atos e gestos) pode ser bem sucedida, mas o êxito depende de seu reconhecimento pela massa. É o caso, por exemplo, de uma luta bem-sucedida pela terra. Qualquer celebração com novos símbolos de luta e conquista pode se tornar bem sucedida. O simbolismo religioso não só vem dar mais força à luta, como ajuda a orientá-la, tornando explícita uma consciência do real, que vem da prática.
É aqui que vem o desafio do catolicismo popular para as CEB's. Uma expressão religiosa de massa numa perspectiva libertadora só é possível quando já há alguma ação de massa libertadora, ou seja, a expressão religiosa da libertação só existe associada a uma prática social de libertação.
O problema que se coloca é de não capitular diante do catolicismo privatizado. Elas devem continuar sendo fermento na massa. Devem mergulhar, portanto, nos símbolos do catolicismo privatizado (santos, devoções, romarias...), mas para orien­tá-los comunitariamente, tendo como referência os santos companheiros de caminhada, santos exemplares. Ao final, não é contestando, mas orientando a partir dessa religiosidade popular.
Escreve Scott Mainwaring (apud PALEARI, 1990, p. 78):
Um dos mais importantes fatores de êxito da Igreja popular tem sido o fato de ela ter se edificado sobre um sentimento de religiosidade. (...) Por exemplo, em Volta Redonda (Rio de Janeiro), 25 mil pessoas (a população da cidade é de 193 mil) participaram da pro­cissão da Páscoa, em 1982. Muitos participantes carregavam símbolos tradicionais, como a cruz e imagens da Virgem e dos santos; outros carregavam cartazes clamando por melhores salários, melhores condições de vida e estabilidade no emprego; outros, ainda, carregavam os dois mundos simbólicos com cartazes que saudavam Jesus como "o rei dos pobres". Às vezes, os participantes trocavam as bandeiras, ilustrando o extraordinário cruzamento dos mundos simbólicos, que se tornou comum na Igreja popular. (PALEARI, 1990)

1.5 Desafios das CEB’s na atualidade
Na pauta dos desafios das CEB's no momento atual bastante complexo, a forma de religiosidade cada vez mais tem sido colocada em questão, a espiritualidade e a mística da CEB's são cada vez mais presentes nas discussões teológicos, nos planos pastorais das paróquias e dioceses da “Igreja Popular” e propriamente nas bases. Neste sentido, Dom Pedro Casaldáliga, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia/MT, apresenta os quatro grandes desafios que questionam a razão e a fé no Século XXI, “o terceiro milênio da era cristã”:
- O século XXI ou será místico ou não será humano. Por que a mística é esse sentido profundo da vida, essa abertura ao horizonte de Deus, em busca da resposta última.
- O século XXI cristão optará pelos excluídos ou não será cristão. À medida que cresce a criminosa desigualdade no mundo, excluídas da vida e da dignidade as minorias humanas, a opção pelos pobres aparece cada vez mais como constitutivo essencial da Igreja de Jesus.
- O século XXI cristão, ou será ecumênico ou não será eclesial. Poderá ser uma berrante eclosão de minicristianismos sem consistência evangélica e sem comunhão testemunhante, mas não a Igreja de Jesus, testemunha da Páscoa, enviada ‘ para que o mundo creia’
- O século XXI, ou será ecológico ou simplesmente ‘não será’. Não que eu creia que esteja chegando o fim do mundo nesse cacarejado ano 2000; mas segundo as ciências e as esperanças, parece, sim, que estamos empenhados todos em acabar com o ar, com a água, com a floresta, com a vida. A ecologia é a grande política pendente, e deve ir sendo, cada vez mais, ética, teologia, espiritualidade. (A Escada de Jacó – Circular Fraterna, 1999)
Os quatros desafios para Século XXI apresentados por Dom Pedro, parece definir o que será também o futuro das CEB's, ou seja, o desafio é incorporar ao “seu projeto de uma nova sociedade” o místico, a opção pelos excluídos (já assumida), o ecumenismo e ecológico (como uma dimensão humana e teológica) como elementos indispensáveis para constituição de visões de mundo orientadoras das práticas religiosas na esfera mundana. Porém, resta-nos uma dúvida: será que as CEB's conseguirão superar tais desafios? 
O próprio Leonardo Boff, quando lhe perguntaram: você já viu Deus, como é Deus? Respondeu o seguinte:
Acho que a gente vê com os olhos interiores. Talvez a gente não veja, mas sinta Deus. Acho que toda vez que a gente sente entusiasmo, de levantar de manhã e ter de começar o dia, ter capacidade de estender a mão ao outro... Deus não é um objeto, não é uma entidade, é uma suprema paixão, suprema energia, o que os gregos de uma maneira genial disseram e eu gostaria de dizer, porque ele está presente em nossa língua, que é a palavra “entusiasmo”. Em grego, entusiasmo significa “ter um Deus dentro”. Então, todo o entusiasmo é a essência da vida, é a energia que faz viver. Creio que é essa realidade que penetra em tudo e não se deixa captar, e sem a qual não entendemos nosso vigor, nossa esperança, nosso sonho, nosso entusiasmo, que escapa continuamente, e ao mesmo tempo, nos desafia pra frente e pra cima. Penso que isso é Deus. E cultivar esse espaço, manter a devoção, manter o encantamento e deixar que isso se irradie é obra de alguém que é inteiro. Por que, como disse Santa Teresa, quando se trata de comer galinhas, então comer galinhas, quando se trata de jejuar, então jejuar, quando se trata de lutar ao lado dos sem-terra, lutar com os sem-terra, quando se trata de escrever um artigo, ser inteiro na escritura do artigo. Acho que essa capacidade é aquilo que é ressonância, que é o resultado da presença secreta, sutil, dessa paixão, desse fogo interior, que nós chamamos Deus. (Entrevista a Caros Amigos, edição especial, setembro de 1998)
A concepção de Deus apresentada por Boff, remonta a uma nova forma de religiosidade, de uma relação da esfera mundana com a sagrada profundamente marcada pelo místico, trata-se de uma espiritualidade ecológica que não comporta mais um Deus cristão personalizado, tão presente na hierarquia católica. Neste sentido, parece surgir no seio da “Igreja dos pobres”, uma religiosidade mística, contudo ainda engajada na negação e transformação deste mundo em “busca da terra prometida”.


2. CEBS NA DIOCESE DE SANTARÉM
2.1 Contexto histórico
De acordo com o padre Sidney Canto (2007), a história da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição tem início muito antes de 1757, pois no século XVII aconteceu a conquista do “sertão amazônico” pelos colonizadores europeus; trazendo os missionários que vieram colonizar estas terras. Padre João Felipe Bettendorf, membro da Companhia de Jesus, foi o primeiro a aportar nas praias santarenas, e aqui estabelecer uma missão entre os índios que viviam às margens do rio Tapajós.
Segundo Fonseca (1996), após os trabalhos iniciais para o estabelecimento definitivo da missão, adoece gravemente o auxiliar de Bettendorf, o irmão Sebastião Teixeira. Bettendorf levou-o para Cametá, onde havia mais recursos e seguiu até Belém. Lá chegando, Padre Vieira aconselhou-o a regressar imediatamente à sua missão, devido às perseguições de que estavam sendo vítimas os jesuítas, movidas por políticos inescrupulosos. Na volta, Bettendorf traz um novo auxiliar para substituir Sebastião Teixeira, o alferes João Corrêa, também conhecedor da língua nativa.
Chegando à aldeia, Bettendorf construiu a igreja, de taipa, contando com a ajuda decidida dos índios e de seu auxiliar João Corrêa, que também era excelente carpinteiro. No altar central, Bettendorf pintou a imagem de Nossa Senhora da Conceição, ladeada por Santo Inácio de Loiola, à direita, e São Francisco Xavier. à esquerda.
Menos de cem anos depois de fundada, a Missão de Nossa Senhora da Conceição dos Tapajós tornou-se alvo da perseguição movida pelos colonos portugueses e por uma pessoa em particular: o Marquês de Pombal, que visando sanar os problemas econômicos da metrópole, achou por bem expropriar das Congregações Religiosas os bens decorrentes do comércio das missões. (CANTO, 2007, p. 12)
A extinção da Missão e a criação da Paróquia foram motivadas muito mais por fatores econômicos e políticos do que por motivos religiosos. Os índios preferiam muito mais a presença das missões e seus religiosos à presença dos padres seculares, que na época não eram tão preocupados com o cuidado das almas; alguns, eram, inclusive, donos de fazendas e escravos e compadres dos grandes fazendeiros e colonos portugueses, por isso defendiam seus interesses.
Foi nesse contexto que nasceu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Com ela, o Bispo aumentava o seu poder sobre o interior da Diocese do Pará, pois as missões e os religiosos não lhe eram subordinados e possuíam uma vida religiosa independente da sua autoridade. Segundo Canto (2007), Dom Miguel de Bulhões e Sousa, Bispo do Pará, era amigo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, governador da Província do Grão-Pará e irmão do Marquês de Pombal. Desta maneira, o Bispo também mantinha uma política contrária à presença das ordens religiosas que mantinham as missões, não só em nível religioso, mas também em nível social e econômico.
No ato de criação da Paróquia, foi nomeado pároco, o Padre Francisco Xavier Eleutério, de nacionalidade portuguesa. Ele fazia parte do grupo de padres jesuítas que se tornou secular para poder continuar trabalhando na Colônia.
Não sabemos se este pároco chegou a assumir de fato a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, pois o religioso que se achava como diretor da Missão não lhe quis dar posse canônica. O Pe. jesuíta Luis Álvares se recusou a assinar a ata de posse do novo pároco, visto que o Superior da Ordem do missionário não havia dado instruções para tal ato, que fora deliberado pelo Bispo do Pará. (CANTO, 2007, p. 13)
Segundo o autor, se assumiu a Paróquia, o primeiro pároco não ficou muito tempo em Santarém, pois já em 1762, quando da visita de Dom Frei João de São José à Paróquia de Santarém, já elevada à categoria de Vila, encontrava-se à frente o Pe. Antônio da Silva, enquanto que o Pe. Francisco Eleutério se encontrava como vigário de Pinhel, no rio Tapajós.
Em Santarém, o Pe. Antônio da Silva deu início a construção da nova Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição (hoje Catedral), iniciada em 1761. De acordo com Pe. Sidney Canto (2007), em 17 de agosto de 1821, foi criada a Vigararia Geral do Baixo Amazonas, pelo Bispo Dom Romualdo de Souza Coelho, com sede em Santarém, sendo nomeado como primeiro vigário-geral, o Pe. Manuel Fernandes Leal, que já exercia a função de pároco. A partir daí, os padres acumulavam dois cargos: o de pároco e o de vigário-geral do Baixo Amazonas. Em 1823, com a adesão do Pará à independência do Brasil, o Pe. Manuel Fernandes Leal, mantendo-se fiel à Coroa Portuguesa e à sua terra natal, renunciou às funções de vigário-geral e de pároco.
Em seu lugar, a partir de 1824, assumiu como pároco e vigário-geral, o Pe. Raimundo Antônio Fernandes, tendo como coadjutor o seu irmão, Pe. João Antônio Fernandes. Esses padres foram substituídos pelo cônego José Gregório Coelho.
Monsenhor Arcedíago José Gregório foi um pároco zeloso e culto. Incentivou a participação popular nos atos litúrgicos, fundou, em 1871, a Confraria de Nossa Senhora do Rosário e promoveu, conforme a orientação de Dom Macedo Costa, reformas nas confrarias e irmandades religiosas, para que essas agissem conforme as recomendações da hierarquia da Igreja: era o período da “romanização da Igreja”. Promoveu, ainda, reformas na Igreja Matriz, erguendo um magnífico altar de mármore, importado da Itália. Sob seus auspícios e direção, foi construída por iniciativa popular a Capela de São Sebastião, demolida mais tarde para dar lugar a Igreja atual. Homem prudente, evitou envolvimento com a política. Manteve um bom relacionamento com os protestantes da “Colônia Americana” que aqui se instalaram em 1867. Sua boa conduta e comportamento chegaram até mesmo a evitar conflitos abertos entre a maçonaria e a Igreja de Santarém. (CANTO, 2007, p. 14)
O cônego Irineu Rebouças assumiu a paróquia um pouco antes de 1900. Ele realizou os preparativos para a virada do século. Permaneceu à frente da Paróquia até pouco tempo depois da criação da Prelazia de Santarém, em 1903.
Com a instalação da Prelazia, a Paróquia tornou-se sua sede e a Matriz, sua Catedral. Canonicamente, o pároco da Catedral é o Bispo. Assim, o Bispo nomeia um titular da Catedral para auxiliá-lo nos trabalhos do território paroquial. O primeiro deles, nomeado pelo Monsenhor Frederico Costa, foi o Pe. Ulisses Montesano, que ficou em Santarém até fins de 1906. Sucederam-no, por um curto espaço de tempo, dois frades agostinianos, Frei Pascoal Bermejo e Frei Luis Veremundo. Foi um período de transição, pois em 1907 chegaram aos franciscanos oriundos da Província de Santo Antônio do Brasil, que assumiram a Prelazia em 1908, sendo nomeado Prelado Dom Amando Bahlman.
Foi durante a administração de D. Anselmo que surgiu um florescente movimento catequético leigo entre os marianos de Santarém. Alguns rapazes dirigiam-se, às segundas feiras à noite e aos domingos à tarde para a periferia da cidade, a fim de reunir o povo para dar aulas de catecismo e rezar o terço. Foi desse movimento que surgiu, primeiro, a capela de Nossa Senhora das Graças, depois, Aparecida, Fátima e São Francisco. Eram inicialmente simples barracões de palha, hoje igrejas de alvenaria, algumas delas já sede de paróquia. O único “barracão” que não vingou foi o de São Francisco, na Turiano Meira, que juntamente com outro, bem mais antigo, o da “Latada”, foram substituídos pela capela do Santíssimo, em local mais ou menos eqüidistante entre os dois barracões. (FONSECA, 1996, p. 84)
Por ato de S.S. o Papa João Paulo lI a Prelazia de Santarém foi elevada a categoria de Diocese, cuja cerimônia oficial de instalação deu-se a 1 de janeiro de 1980. Na ocasião, disse o novo Bispo Diocesano, Dom Tiago Ryan: “Eu falo a vocês como primeiro bispo desta nova Diocese, uma Igreja adulta, não mais uma prelazia, mas uma Igreja da qual o Santo Padre e a Igreja Universal podem esperar muito mais do que demos no passado”. (apud FONSECA, 1996, p. 85)
Segundo Canto (2006), Dom Tiago Ryan assumiu a prelazia no ano de 1958. Entre tantas obras realizadas por Dom Tiago, pode-se destacar: a inauguração do Seminário Pio X, a inauguração da Rádio Rural e a implantação do MEB, a organização da catequese com a implantação das Semanas Catequéticas. Trouxe grandes movimentos para Santarém, como Cursilho de Cristandade, Renovação Carismática, Equipes de Nossa Senhora. Teve como sucessor, Dom Lino Vombömmel, ordenado Bispo em 1981. Foi a primeira ordenação episcopal em terras santarenas. Ele foi bispo de Santarém durante 25 anos, vindo a falecer em 06 de agosto de 2006. Em seu lugar assumiu Dom Esmeraldo, que continua o processo de evangelização da Amazônia.
Para facilitar a participação e buscar uma caminhada em conjunto,  a Diocese passou a se organizar em regiões pastorais e áreas, desde 1984, ao todo temos hoje , 11 regiões pastorais assim distribuídas:
Região 01 –Centro da cidade
Região 02-Periferia de Santarém(Grande Prainha) até Mararú
Região 03-Periferia de Santarém (Aldeia ) até Eixo Forte
Região 04-Planalto  Santareno
Região 05- Rio Tapajós
Região 06-Bairro Aeroporto, Floresta, Esperança e Nova República
Região 08- Arapixuna , Arapiuns e Lago Grande
Região  09- Várzea
Região 10-Monte Alegre e Prainha
Região 11- Almerim e Monte Dourado
Cada Região é dividida em diversas Áreas Pastorais, sendo que todas as regiões tem seus representantes no Conselho Diocesano de Pastoral(CDP),que se reúne anualmente  para encaminhar os trabalhos a nível de Diocese e servir como ponte entre as comunidades, áreas e regiões, para avaliar a caminhada e deliberar os novos passos  acontecem as Assembléias Diocesanas. Além disso, a Diocese conta com várias equipes de serviços que executam seus planos na zona urbana e na zona rural.

2.2 Implantação das CEB’s em Santarém
De acordo com Frei Leão Brune e Eunice Sena (1993), as Comunidades Eclesiais de Base começam a ser pensadas e projetadas com a Reunião dos Bispos da Amazônia, acontecida na cidade de Santarém, nos dias 24 a 30 de maio de 1972. Frei Graciano Nosal, então vigário da Paróquia de São Raimundo, participou deste encontro e escutou o apelo pela criação de pequenas comunidades cristãs de base.
Neste contexto é que Frei Graciano passou exercer sua influência, e onde vai desenvolver as CEBs. O objetivo era criar pequenos grupos de famílias para dar base à futura comunidade eclesial de base. Estes grupos floresceram por ruas e quarteirões.
No fim de 1972 já existiam cinco grupos, e um ano depois, já eram vinte e três. Estes grupos reuniam em volta da leitura da Bíblia. O dono da casa escolhia um trecho para ligar os acontecimentos do dia-a-dia. A Bíblia foi se tornando conhecida e admirada. Surgiu então um problema sério: muitas vezes a leitura escolhida estava destinada a atingir um determinado problema vivido por um dos participantes. Isto causou a saída de alguns que se sentiram atingidos e acusados pelo grupo. (BRUNE; SENA, 1993, p. 15)
O Conselho Paroquial foi formado pelos que tinham algum tipo de poder no bairro: donos de pequenas firmas, comerciantes, gente que não tinha tempo nem vontade de participar nos grupos. É gente, que como patrões, tomavam decisões e faziam os empregados executarem as ordens. Estes conselhos iam cuidando da administração da paróquia, da festa do padroeiro e distribuíam as tarefas pelos grupos, e essa situação causava tensões e questionamentos.
Segundo Brune e Sena (1993), em 1980 a tensão entre, continuar com o Conselho Paroquial e, assumir um jeito novo de grupos autônomos, foi rompida e eliminaram-se os Conselhos Paroquiais. Passou-se a resolver sobre a administração e a pastoral através de Assembléias dos Grupos. A catequese passou a ser feita nos grupos e pelos grupos que agora já são de adultos, jovens e crianças. Assim, se delineia o novo jeito de ser Igreja. Ainda não se chama de CEBs, pois são apenas comunidades que vão se descentralizando da paróquia num processo lento. Foi quando, os grupos em assembléia, depois de vários tríduos e cursos sobre liturgia, decidiram abandonar o Folheto Dominical, “O Domingo”, e passou-se a preparar as liturgias a partir da vida cotidiana, da realidade. Passou-se a escolher os temas e leituras, inclusive das missas dominicais.
Em 1979, foi realizado um encontro com os trabalhadores, gente que participava nos grupos. Desse encontro foi iniciada a campanha de sindicalização, surgindo então, núcleos de categorias profissionais: comerciários, construção civil, mulheres domésticas, estudantes... (BRUNE; SENA, 1993, p. 17)
A organização em grupos se fortificou. Tudo passou a ser resolvido através do voto dos grupos em assembléias, desde o planejamento da pastoral do ano seguinte, às questões de construção, manutenção e administração das comunidades. A pastoral, em conjunto dos cinco bairros, Laguinho, Liberdade, Mapiri, Ipanema e Cambuquira, tirava a linha de ação para o ano todo e, cada comunidade colocava em prática conforme sua realidade e suas condições.
O dízimo permitiu uma certa autonomia financeira e permitiu a remuneração do padre, secretária e dois agentes de pastoral, garantindo a manutenção ordinária dos prédios e construções.

2.3 Área A
Segundo documentos da paróquia de Cristo Libertador, a Igreja Diocesana, tem dados passos significativos na sua organização, procurando sempre envolver o povo das comunidades nas decisões em todo processo de planejamento e execução de seus projetos.
A Área “A”, Região 2 de pastoral está localizada na periferia de Santarém, sendo formada por nove comunidades tais como: Cristo Libertador, onde fica a Paróquia da Área, Sant’Ana, Livramento, São José Operário, Frei Rainério, São João Batista, São Paulo Apóstolo, São Francisco de Assis e Divino Espírito Santo, que é a comunidade mais recente. O pároco da referida área é Frei Francisco de Assis Siqueira da Paixão, OFM.
Considerando a grande extensão da área geográfica de Santarém e necessidade de anunciar o Reino de Deus a todos, Ângela Tereza da Paróquia de Cristo Libertador nos relata:
Hoje a Paróquia de Cristo Libertador é constituída pela Área “A” Área “B” Sendo que a Área “B” é formada pela comunidades de Jardelândia, Maicá, Pérola do Maicá, Mararu, Urumanduba, Miritituba, Santa Luzia,Diamantino e Castela. Ao todo são 18 comunidades, sob atuação da Rede Franciscana de paróquias. (Ângela Tereza, 50 anos, entrevista concedida em 25/08/2008)
Segundo o histórico das CEB’s, foi em 1983 que surgiram as primeiras CEB’s da Área “A” da Região 2 de Pastoral a partir da bandeira de luta: “Núcleo de fé”, que logo passou a ser denominado de CEB’s, e que aos poucos foram crescendo e se espalhando nas comunidade e que sustentam toda a caminhada Pastoral da Área.
Conforme Ângela Tereza: “Atualmente Área “A” é formada por 42 Comunidades Eclesiais de Base, que são organizadas em distritos, nos seus respectivos bairros , na periferia de Santarém”.
Dessa forma percebe-se que nesta área as Ceb’s são fundamentais para o fortalecimento de sua paróquia, transformando-a em Rede de Comunidade com todo seu dinamismo e espiritualidade a serviço do Reino.
Sabe-se que os desafios e os esforços para superar as dificuldades dos tempos atuais são imensos, mas felizmente na Diocese de Santarém as Ceb’s tornaram-se prioridades definida pela Assembléia Diocesana. Hoje temos uma Equipe do “Secretariado das Ceb’s”, que cuida das atividades, animação e capacitação de seus membros. (Ângela Tereza, 50 anos, entrevista concedida em 25/08/2008)
Nota-se que ao longo dos anos essas comunidades juntamente com sua paróquia, associações de moradores, grupos de orações e outros, são forças vivas dessa Área de Pastoral, pois estão sempre sendo fortalecidas pela Eucaristia e pelo anúncio da Palavra. Para Goreth Pedroso da comunidade de Sant'Ana esse crescimento pastoral e organização da Área acontece a partir das CEB’s , conforme relata:
Primeiramente vejo a organização da Diocese, que com sabedoria dividiu a vasta área geográfica de Santarém em regiões pastorais, facilitando o trabalho de evangelização. Esta experiência é tão positiva que vai alargando horizontes, transformando um trabalho de formiguinhas incansáveis num trabalho frutuoso. A Área A é prova disso, formada por nove bairros realiza um trabalho conjunto na formação continuada, nos mas diversos ministérios, transformando o leigo em protagonista da evangelização, onde as CEB’s funcionam como sementeiras que vão espalhando mudas e adubando novos terrenos. As CEB’s nos favorecem espaço para viver nossa fé, amar a Deus e aos irmãos e a servir na sua essência. (GORETH PEDROSO, 51 anos, entrevista concedida em 20/06/2008)
Muitas foram as conquistas e lutas das Ceb’s, da Área “A” ao longo desses anos de caminhada, hoje, por exemplo, tem as Assembléias, onde acontece a participação ativa das comunidades, nas discussões dos problemas, na troca de experiências, reflexões, celebrações e nas tomadas de decisões que são fundamentais para a vida da Igreja em toda diocese, fortalecendo assim a pastoral de conjunto, definindo os objetivos da ação evangelizadora da Igreja Diocesana , bem como as diretrizes e as prioridades que deverão ser assumidas pelos movimentos, comunidades, regiões, áreas, conselho diocesano e demais seguimentos organizados da Igreja na Diocese de Santarém.
Como sempre a Área “A” de Pastoral esteve empenhada nesse processo e participou ativamente da VII Assembléia Diocesana, conforme relata Frei Paixão, OFM:
Depois de um longo processo de preparação, eis que nossas comunidades cristãs celebram esta Assembléia, na esperança  de tornar nossa Igreja mais fiel  à missão de anunciadoras de Reino de Jesus Cristo nesta terras amazônidas. Toda boa assembléia  é sem dúvida um exercício profundo de comunhão e participação , pois requer a colaboração de todos os agentes interessados no bem da Igreja. E  foi assim com a VII Assembléia Diocesana. Há mais de um ano e meio toda Igreja de Santarém se mobilizou para participar das reflexões , das avaliações,das assembléias  da áreas, setores, regiões , etc. até chegar este momento celebrativo  neste mês de novembro de 2008. Resta agradecer a Deus por  toda esta grande mobilização da Igreja de Santarém . O Senhor nos deu coragem e inteligência suficientes para conduzir mais esta atividade para o bem de todos  os cristãos . Que Seu Espírito paire sobre nossa Assembléia , pois só assim seremos capazes de responder ao seu apelo, nos tornando sempre mais “discípulos missionários  de Jesus Cristo a serviço da vida plena. (Jornal Caminhada Ano XXVIII-Nº07- Novembro/2008.)
O dinamismo da área “A” é perceptível, porque ao longo dos anos sua paróquia vem primando e cultivando a formação comunitária de seus leigos e leigas, com curso de formação para lideranças em prol da catequese e celebrações, possibilitando assim base de experiência e encontro com Cristo e sua Igreja. Dessa forma amplia o crescimento na “Fe” a serviço da comunidade.
Pois conforme Doc. Aparecida/309, esse deve ser o papel missionário de toda Igreja.
Se desejamos pequenas comunidades vivas e dinâmicas, é necessário despertar nelas uma espiritualidade sólida, baseada na Palavra de Deus, que as mantenham em plena comunhão de vida e ideais com a Igreja local e, em particular com a comunidade paroquial. Por outro lado, conforme há anos estamos propondo na América latina, a paróquia chegará a ser “comunidade de comunidade. (DA, 2007, art. 309, p. 141)
Inserida nesse contexto, a Área A de Pastoral sempre foi comprometida em defender a vida e por isso é parceira dos Movimentos Sociais e das Organizações Populares e juntos motivados pelo desejo de resgatar a Vida do Igarapé do Urumari que passa por seis bairros urbanos de nossa cidade como: Urumari, São José Operário, Uruará, Área Verde, Jutaí e Santo André, organizaram-se e formaram o Comitê em Defesa do Urumari, em novembro de 2007, esse comitê é formado por representantes das Associações dos bairros adjacentes ao igarapé, juntamente com a Federação das Associações Comunitárias de Santarém – FANCOS e a Paróquia de Cristo Libertador. Esse comitê luta para preservar o que ainda resta de bonito no ecossistema deste igarapé, tentando recuperar o que se encontra ameaçado pela ação do homem.
Desde a sua fundação esse comitê tem realizado várias ações em defesa das águas do Urumari, segundo o Jornal Caminhada, Ano XXVIII - Nº 03. Abril/2008:
No dia 22 de março de 2008 no Dia Mundial das Águas, o Comitê em Defesa do Igarapé do Urumari realizou uma audiência pública com a participação do Ministério Público Estadual, lideranças da FANCOS, da Coordenação de Pastoral da Área A, das Associações de Moradores, representantes do ISAM, da Câmara Municipal, Rádio Rural, Frente de Defesa da Amazônia e outros segmentos da sociedade. Esta audiência aconteceu na esquina das Avenidas Dom Frederico Costa e Moaçara, no bairro de São José Operário, debaixo de uma chuva torrencial, fato este que não impediu a animação e participação das pessoas que buscam incansavelmente o respeito, a dignidade e a vida.
Segundo a PASCOM, acreditando que um outro Urumari é possível esse comitê preparou algumas ações para ano de 2009, tendo como inicio uma Celebração Ecumênica às 09h00 na Ponte do Urumari, no Dia Mundial das Águas no dia 22 de março.
Desta forma percebe-se também o envolvimento, a luta das Comunidades Eclesiais dessa Área de Pastoral uma que vez que essa temática foi discutida e refletida nas reuniões de CEB’s à Luz da Palavra de Deus, no período de 01 a 30 de abril. Pois se faz necessário somar esforços para que a vida seja respeitada em sua plenitude para se poder viver dignamente.
Além dessas reflexões o Comitê realizou de 01 a 31 de maio um trabalho de sensibilização , através de peças teatrais e palestras nas escolas localizadas nos bairros adjacentes ao igarapé, retratando como era antes e como se encontra hoje, mostrando assim a história e a realidade que precisa ser mudada, na qual todos somos responsáveis.
Figura 01 – Romaria das Águas-07-06-08. Fonte: a acadêmica


Figura 02 – Romaria das Águas-07-06-08. Fonte: a acadêmica

Figura 03 – Romaria das Águas-07-06-08. Fonte: a acadêmica

Figura 04 – Igarapé do Urumari. Fonte: A acadêmica



3 FORÇAS E FRAQUEZAS DAS CEB’S DE SANT’ANA
3.1 Comunidade de Sant’Ana
O bairro de Santana, onde fica a paróquia do mesmo nome, está localizado à margem do rio Amazonas, no Distrito Leste, ao norte, rio Amazonas, sul, Bairro Santíssimo, leste, Bairro Livramento e Uruará, e Oeste, Bairro Santíssimo e Prainha, com uma população de 8.523 habitantes, e 2.272 famílias, segundo informe do Posto de Saúde, em 2008.
De acordo com o panfleto da Festa de Sant’Ana (2008), essa comunidade iniciou em 1948, com a junção de dezesseis famílias que moravam perto das margens do rio Tapajós, nas proximidades da antiga Transfrisa. O bairro não tinha nome e fazia parte da área chamada grande Prainha. Não existia ruas, apenas três caminhos. Com o passar dos anos, os moradores sentiram a necessidade de se reunir e celebrar a Palavra de Deus. O primeiro passo foi a construção de um modesto barracão comunitário. Os moradores se juntaram para grande empreitada, pois deveria estar pronto para a festa da padroeira. E no dia 18 de julho de 1948, o barracão foi inaugurado, local da primeira festa de Sant’Ana. Em agosto daquele ano, o barracão passou a servir, também, de escola às crianças do bairro.
Figura 05 – Réplica do primeiro barracão de Sant’Ana
A escolha da imagem de Sant’Ana se deu por um fato curioso: é que, julho era o único mês em que não tinha festa religiosa em Santarém.
Não demorou muito tempo e a população do bairro foi crescendo, o pequeno barracão já não comportava o grande número de fiéis. Em 1957, a coordenação da comunidade iniciou outro projeto: a construção da igreja em alvenaria que ficou conhecida como a igrejinha de Sant’Ana. Ela foi construída no morro, e quem vinha de Belém ou Manaus logo a visualizava. De lá para cá foram construídas mais três igrejas.
Hoje a atual Igreja de Sant’Ana, encontra-se em processo de conclusão de seu piso, que por sinal é muito bonito, graças a partilha através do dízimo e das promoções realizadas pelos seus comunitários, vários mutirões foram realizados para ver o prédio dessa Igreja da forma que se encontra hoje, uma vez que esse era o sonho de seus comunitários. Percebe-se que é uma Igreja muito bonita e acolhedora e que possui uma coordenação muito comprometida, tanto nos serviços pastorais quando nas atividades sociais de sua comunidade, contando sempre com apoio de seu vigário atual Frei Paixão.
Figura 06 – Atual Igreja de Sant’Ana. Fonte: Acadêmica
Sant’Ana é a mais antiga das nove comunidades que formam a Área A. O trabalho pastoral é desenvolvido por seis Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, por grupos de jovens, Apostolado da Oração, equipes de serviço, Legião de Maria e RCC. Possui uma coordenação pastoral formada por representantes dos grupos. É uma comunidade formada por pessoas corajosas e determinadas que, com sabedoria e a proteção de Sant’Ana, buscam realizar o trabalho missionário.
Um dos frutos deste trabalho foi a ordenação de um frade franciscano, Frei Raimundo Reginaldo Sena, consagrado em 2006, que nutriu sua vocação no seio da Comunidade Eclesial de Base; consagrado presbítero juntamente com Frei Élder Almeida. Foram ordenados pela imposição das mãos de Dom Gilberto Pastana, bispo de Imperatriz do Maranhão. A celebração contou com a participação Dom Severino de França e de padres da Diocese de Santarém e Imperatriz.

3.2 CEB’s do bairro Santana
Segundo Sueli Carvalho Costa (44anos) com 16 anos de liderança nessa comunidade, que participa no Distrito 03, Ceb Emanuel, faz parte da Coordenação de Ceb’s em nível de Área e em nível diocesano.
A Comunidade de Sant’Ana, que possui o mesmo nome de seu bairro é divida territorialmente em 06 distritos, cada um funcionando uma Ceb, assim distribuídas:
Distrito 01 – CEB Juntos Venceremos
Distrito 02 –CEB Javé
Distrito 03 –CEB Emanuel
Distrito 04 – CEB Fé e Esperança
Distrito 05 – CEB Caminhando com Cristo
Distrito 06 – CEB Vivendo em Comunidade
Cada CEB tem o seu animador(a) e seu vice que fazem parte da Coordenação da Igreja, juntamente  os coordenadores das Equipes de serviços da comunidade. Temos também em nossa comunidade o Grupo da Renovação Carismática, o Apostolado de Oração e apenas um grupo de jovens JOCUC (Jovens Cristãos Unidos pela Comunidade) que também estão inseridos nas Ceb’s e que atuam nos momentos fortes e nos ministérios de nossa comunidade. Existe em nossa comunidade várias equipes de serviços ou ministérios como: Equipe de liturgia, Equipe de Acolhimento, Equipe de Animadores de Celebração, Equipe da Cantores, Equipe de Leitores, Equipe de Crisma, Equipe da Catequese Infantil, Equipe de Ministros da Eucaristia, Equipe da Pastoral Familiar, Equipe do Dizimo, e também temos a atuação da Pascom que tem a responsabilidade de cuidar da comunicação dessa comunidade, todas as equipes são constituídas por membros de CEB’s, que passam por momento de formação para atuarem nas pastorais de nossa comunidade, uma vez que essa formação desse leigos e leigas  é uma das prioridades da Área”A”. (SUELI CARVALHO COSTA, 44 anos, entrevista concedida em 25/03/2009)
Percebe-se pela resposta da Dona Sueli que a comunidade está dividida em seis CEB’s, que atendem aos comunitários com suas atividades pastorais, visto que este é um bairro grande, com uma população em que se faz necessário a presença de vários líderes, que são denominados de Animadores de CEB’s, que fazem parte da Coordenação da Igreja de Sant’Ana, juntamente com os demais coordenadores dos ministérios existente na comunidade.
Quanto à organização das CEB’s nesse bairro, observa-se que:
A organização da Área “A” e da comunidade de Sant’Ana é muito boa é uma maneira de organização que se pode trabalhar melhor , onde cada um assume a sua responsabilidade, o seu compromisso com o seu servir na  comunidade que está inserido, diante do dinamismo da missão exige, hoje por exemplo, sou Orientadora de Crisma, Ministra da Eucaristia e exerço outros serviços na comunidade. (SUELI CARVALHO COSTA, 44 anos, entrevista concedida em 25/03/2009)
Importante é o relato de Marcos Rodrigues,27 anos, enfatizando os serviços que uma CEB pode gerar à comunidade em que está inserida:
Quanto à organização pastoral há um grande avanço, pois a partir das CEB’s é que surgem os vários serviços, as diversas equipes pastorais, cada uma com suas atribuições. Com relação a evangelização encontramos muitos desafios, porém o papel das CEB’s é ser fermento na massa, apontando saídas, alternativas  na promoção da dignidade e no compromisso em defesa da vida. (MARCOS RODRIGUES LOBATO, 27 anos, Ceb Vivendo em Comunidade, Distrito 06, entrevista concedida em 25/03/2009)
Para Anatília Gama, 78 anos, a organização comunitária da área “A” torna-se um referencial para a diocese:
A organização da área ”A”, hoje já é considerada modelo na Diocese, embora haja ainda muitos desafios para envolver mais pessoas nesse processo. Há muitas CEB’s fracas, precisando de ajuda. Tem muita gente do lado de fora e, por falta de operários, a messe está perdendo fiéis. Se os operários são poucos acarreta uma sobrecarga àqueles que já se dispuseram a servir. (ANATÍLIA GAMA DIAS, 78 anos, CEB Caminhando com Cristo, Distrito 05, entrevista concedida em 25/03/2009)
Na opinião dos entrevistados, as CEB’s do bairro de Santana estão bem organizadas, uma vez que possuem lideranças comprometidas com a formação de seus membros, oportunizando-lhes a formação leiga a serviço do Reino, porém, há ainda muitas pessoas que não estão envolvidas com a vida comunitária, e isso acaba por sobrecarregar algumas pessoas, no exercício de vários ministérios como   nos relata dona  Maria Lucinda (65 anos, distrito 02, Ceb Javé):
Participo da comunidade de Sant’Ana deste a época do Frei Miguelão, nesse período ele veio em minha casa, me convidou para ser ministra da eucaristia e eu aceitei esse chamado. Há vinte e três anos atrás quando ainda não existia as Ceb’s, eram apenas os grupos de orações, chegou para ser minha vizinha, a Goreth Pedroso, como eu estava grávida e perto de ganhar bebê, ela passou a coordenar o que deu origem a então Ceb Javé. Deste esse período contínuo com minhas atividades pastorais, posso dizer que aprendi muito com essa experiência e continuo aprendendo, pois sempre tive esse espírito comunitário de servir a Deus, durante uns 20 anos estive a frente da Renovação Carismática, orientadora de Crisma por muitos anos, hoje participo do Ministério de Cantores como salmista, do Apostolado de Oração, e Ministra da Eucaristia, vejo que hoje a nossa comunidade está mais organizada, os tempos são outros, servimos com mais responsabilidade e compromisso, pois temos encontros de formação e procuramos sempre fazer o melhor para  servir a Deus e aos irmãos.
Como se percebe as CEB’s são comunidades de caridade, que se revela em serviço mútuo dentro da própria comunidade e em assistência também aos irmãos de fora, sobretudo aos mais necessitados. É preciso, porém, que a prática concreta da caridade não seja comprometida com projetos políticos. Esse exercício do amor fraterno terá em mira não só defender direitos humanos pisoteados, mas também e, em primeiro lugar, ajudar os irmãos a aprofundar a própria fé, por conseguinte, jamais poderá esquecer a primazia dos valores espirituais sobre os temporais.
As CEB’s se caracterizam por participação de todos os comunitários, dos idosos às crianças, conforme pode-se observar nos relatos:
Sempre visamos a participação das crianças nas atividades das CEB’s, fizemos um trabalho de evangelização com as crianças, pois sempre ouvimos falar que CEB é lugar só de adultos, idosos, e procuramos inserir as nossas crianças, aqui até as crianças coordenam as reunião, claro com a supervisão dos adultos, pois acredito que é importante dar responsabilidades, incentivando para que elas crescem com essa vivência comunitária, tanto é que esse ano fizemos a encenação da  Santa Ceia só pelas crianças. (MARCOS RODRIGUES LOBATO, 27 anos, Ceb Vivendo em Comunidade, Distrito 06, entrevista concedida em 25/03/2009)
Figura 07 – Santa Ceia encenada pelas crianças das CEB’s.
Essa integração das crianças nas CEB’s fortalece o vínculo de comunidade, pois assim estas começam a entender desde cedo seu papel dentro da igreja.
A CEB é um ponto de encontro de famílias, não importa a idade, classe social das pessoas. É na CEB que refletimos a Palavra de Deus e nos relacionamos com outras pessoas, pois acredito que é muito importante ter esse momento de encontro entre as famílias. A nossa participação na comunidade se dá nas celebrações, nas quais cada CEB tem o seu dia de animar a celebração aos domingos e terças-feiras. Também participamos dos serviços comunitários, das festividades de nossa padroeira, das orientações dos Sacramentos e das celebrações em outras comunidades, quando somos convidados. (MARCOS RODRIGUES LOBATO, 27 anos, Ceb Vivendo em Comunidade, Distrito 06, entrevista concedida em 25/03/2009)
Esse engajamento de todos nas CEB’s faz com que esta tenha uma força muito maior de evangelizar.
Participo de CEB desde os sete anos de idade, e ao longo desses anos a CEB me possibilitou atuar em minha comunidade em vários ministérios. Já fiz parte do grupo de coroinhas, da equipe de acolhimento e hoje participo da equipe de leitores. Me sinto muito feliz atuando e participando da CEB, pois é lá nos encontros que busco aumentar meus conhecimentos sobre a Palavra de Deus, e como colocá-la em prática na minha vida de jovem, que não é nada fácil, ante os desafios que a sociedade oferece para a juventude nos tempos atuais, e até na nossa vida familiar. (ALINE SANTOS MARQUES, 19 anos, CEB Emanuel, Distrito 03)
Hoje, a comunidade de Sant’Ana conta com muitas crianças exercendo o serviço de acólitos nas celebrações, conforme relata a pequena coroinha Claúdia Manuela de Matos Santos (11anos), da Ceb Emanuel:
Ser coroinha para mim é muito importante, pois é um serviço que quando a gente vai realizar, não é para ir só por ir, tem que vir para a igreja com o espírito de servir a Deus e fazer bem feito, pois Deus merece o nosso melhor e por isso eu me sinto muito feliz em servir a Deus. (MANUELA DE MATOS SANTOS, 11 anos de idade)
Segundo Boff (1999), o desafio das CEB’s é incorporar ao seu projeto o aspecto místico, a opção pelos excluídos (já assumida), o ecumenismo e o ecológico (como uma dimensão humana e teológica), visto que são elementos indispensáveis para constituição de visões de mundo orientadoras das práticas religiosa.
Segundo Anatília Gama Dias, que participa hoje da CEB Caminhando com Cristo, no Distrito 05, a mesma já participou de vários ministérios nessa comunidade e hoje continua engajada ativamente na CEB, uma vez que já contribuiu muito na evangelização nessa comunidade. A comunitária fala do início das comunidades e do espírito de fraternismo existente entre os comunitários:
Quando a população era menor, o povo se conhecia mais. Havia a preocupação com o “outro” tanto que quando participava de “grupos de vizinhos”, nestes tinha um posto de vendas de alimentos, para ajudar os mais necessitados. Não visava lucro, apenas se vendia pelo preço de custo, pois o bairro era muito carente. O interessante é que as pessoas vinham procurar e levavam o que precisavam, de acordo com o que tinha no momento. Isso mostra que desde essa época já existia o espírito de partilha e solidariedade entre os grupos existentes, a exemplo das primeiras comunidades cristãs. (ANATÍLIA GAMA DIAS, 78 anos, CEB Caminhando com Cristo, Distrito 05, entrevista concedida em 25/03/2009)
Segundo ela, as CEB’s de Sant’Ana surgiram a partir dos grupos: Vida Nova, Reconciliação e Paulo VI, e existia na época o Grupo de Jovens AJOSAN, que por sinal foi bastante atuante nessa comunidade. Pode-se dizer, que esses grupos geraram muitos frutos ao longo dos 60 anos  dessa comunidade.
Dona Anatília sempre foi uma pessoa muito alegre e disposta, participante ativa das noites culturais nas festividades da padroeira, com suas cantorias e composições musicais. A mesma recorda de forma saudosa  as noites de arraiais que essa comunidade realizava anos atrás e lamenta as mudanças em relação à participação da juventude:
Hoje é diferente, a violência tem crescido muito, não dá mais para voltar para trás. A vez agora é da juventude, mas infelizmente vejo que os jovens de nossa comunidade estão um pouco parados, antes eram mais engajados e comprometidos com a nossa Igreja. (ANATÍLIA GAMA DIAS, 78 anos, CEB Caminhando com Cristo, Distrito 05, entrevista concedida em 25/03/2009)
As Comunidades Eclesiais de Base foram concebidas para criar e fomentar o espírito cristão de amor a Deus e ao próximo entre os seus membros - o que seria muito difícil se não se pensasse em repartir ou subdividir a paróquia.

3.3 Festa de Sant’Ana: Momento de Religiosidade, partilha e comunhão das CEB’s
Dentro da história dessa comunidade encontra-se o catolicismo popular, através de suas práticas religiosas e das “Festas Religiosas” que foram se mantendo durante os 60 anos de sua catequese, transmitidas por leigos, padres e pessoas que souberam acompanhar o desenvolvimento e crescimento urbano dessa comunidade. Nota-se que esses ensinamentos e práticas religiosas foram sendo mantidos e repassados de geração para geração, até chegar à forma que se encontra nos tempos atuais (PASCOM)
Ainda hoje percebe-se que, mesmo esse catolicismo sendo vivido nas comunidades urbanas, tem sua raízes no mundo rural, uma vez que a população urbana é oriunda do meio rural e que aos poucos foram inserindo a religiosidade popular no catolicismo atual. Um exemplo disso como é bastante perceptível é a relação mística do homem do campo com a natureza, evidenciado nas festividades dos santos padroeiros, através dos ofertórios de frutas regionais e  da presença outros elementos como  água , terra  e fogo  inseridos nas celebrações .
Segundo a Pastoral da Comunicação o elemento central do Catolicismo Popular é a figura de Jesus Cristo é “Ele” a fonte de inspiração para aquele que nele crê. Já o padroeiro ou padrinho é cultuado através de sua imagem, sendo ligado a vida cotidiana do devoto, o que percebe-se é que esse relacionamento entre o devoto e o santo, torna-se uma expressão de fé intensa.
Nessa comunidade constata-se que a festa de sua “Padroeira” é marcada pela forte expressão da religiosidade, partilha e comunhão entre as CEB’s que celebram e renovam a fé. Para a comunitária Goreth Pedroso:
Ainda é muito forte a devoção pela santa que celebramos, junto com isso a fé que ela exerce pela sua intercessão junto ao pai e a necessidade do povo ter uma referência para sustentar sua devoção, essa devoção acontece com peregrinações, celebrações, procissões ,Ofício Divino confraternizações entre comunidades e na parte social da festa. (GORETH PEDROSO, entrevista concedida em agosto/2008)
Figura 08 – Procissão de Sant’Ana. Fonte: Acadêmica
É interessante também observar que nesses momentos celebrativos, acontece o intercâmbio de outras comunidades em visita a comunidade em festa, além da “Missa das CEB’s”, onde todas as CEB’s da Área “A” se encontram. É importante ressaltar que nesse encontro percebe-se a verdadeira comunhão das CEB’s, através da alegria, animação e partilha entre as comunidades. Como podemos perceber na letra desse hino:
CEB’s, POVO UNIDO
Refrão: CEB’s, povo unido/semente da nova sociedade/CEB’s, é força é vida,/ é luta na caminhada.
CEB’s é caminho, de libertação/é povo oprimido, fazendo união /da cidade ao campo/não faz distinção / de raça nem cor, ou religião .
As CEB’s despertam as organizações/instrumento de luta, de reivindicação / do sindicalismo e associações/ e dos movimentos sai conscientizações.
 É povo de Deus em movimentação /procurando sair desta opressão/das experiências ,  faz reflexão/sociedade nova é a solução . (Livros de Cantos, Sant’Ana, 2008)
Figura 09 – Missa das CEB’s em Sant’Ana julho/2008. fonte: Acadêmica
Segundo pesquisas, essa expressão da religiosidade popular, representa para o fiel a esperança e proteção especial de Deus, dos santos e da Virgem Maria, além dessa proteção pessoal, percebe-se que, nesse momento religioso e festivo as comunidades estruturam sua vida comunitária, em busca das igualdades sociais, pois as festas são consideradas pontos culminantes e essenciais na vida social do povo que luta de forma organizada sobre a luz da palavra de Deus pela transformação da sociedade.
Uma das novidades das festividades da comunidade, desde 2008 é a peregrinação da Sant’Ana nas famílias, em preparação de sua festa. Percebeu-se assim uma grande expressão da religiosidade cristã do povo dessa comunidade, pois foi o momento de recordar e celebrar os exemplos de vida dessa santa, que deram origem a essa grande comunidade. Os peregrinos em visita às famílias, rezando, cantando, partilhando a Palavra a exemplo de sua padroeira, renovam ao longo da caminhada as suas forças para viver seu compromisso na missão evangelizadora, a partir das CEB”s.
Figura 10 – CEB Caminhando com Cristo – Peregrinação julho/2009. fonte: Acadêmica
As festas são consideradas pontos culminantes e essenciais na  vida social do povo que luta de forma organizada, à luz da Palavra de Deus, para a transformação da sociedade.
Uma das novidades das festividades dessa comunidade em 2008 foi a peregrinação da imagem de Sant’Ana nas residências das famílias. Isso foi uma grande expressão da religiosidade cristã do povo dessa comunidade, pois foi o momento de recordar e celebrar a vida em comunidade, renovando  as  forças para viver o compromisso na missão evangelizadora de Jesus Cristo.

3.4 Forças e Fraquezas
Sabe-se que as Comunidades Eclesiais de Base ao longo dos anos foram  amadurecendo e se legitimando e  que nos anos 80 e 90 tiveram que repensar sua identidade , tanto no Brasil como  na América Latina.
Analisando o surgimento e a expansão das Ceb’s no Brasil e na Diocese de Santarém, pode-se dizer que as forças das Ceb’s nos tempos atuais são impulsionadas pelos Encontros Intereclesiais, que muito tem ajudado a manter firmes as Ceb’s em suas comunidades.
Segundo a Pastoral da Comunicação – PASCOM, Intereclesial é um encontro que reúne os representantes das Ceb’s, vindos de todas as parte do Brasil, os representantes das Ceb’s encontram-se periodicamente para celebrar  e avaliar sua caminhada. Esse fato representa uma oportunidade de envolver as dioceses do país e representantes de outras Igrejas. Além disso, os Intereclesiais cumprem a finalidade de ser memória viva da caminhada da Igreja.
Ao longo dos anos os Intereclesiais foram acontecendo como uma forma, que a Igreja encontrou para viabilizar o intercâmbio entre as comunidades, constituindo assim o local  para a troca de experiência e partilha dessas pequenas comunidades.
Um aspecto que se constitui forças na efetivação das pastorais das Ceb’s de Sant”Ana, além das Assembléias Diocesanas é a organização, o planejamento da Área A nas suas atividades. Conforme documento paroquial, após um longo processo de preparação das Equipes de Serviços da Área, já se tem o Plano de Pastoral da Área A 2009-2010, a partir da Implantação efetiva da Pastoral de Conjunto, que tem como objetivo: Promover a comunhão entre todas as forças vivas da diocese em vista da maior eficácia da ação evangelizadora e da comunhão eclesial. Para Frei Paixão:
Numa primeira vista parece um plano ambicioso, mas se olharmos com mais atenção percebemos que a maioria das atividades são ações regulares de nossa ação pastoral nos últimos anos. Algumas são pretensões bem interessantes no sentido de responder aos apelos dos novos desafios pastorais levantados por ocasião das avaliações feitas no processo de preparação da assembléia Diocesana. Jornal Caminhada Ano XXVIII-Nº07- Novembro/2008.)
Hoje, as CEB’s com sua experiências buscam uma superação da dicotomia  Igreja e mundo com novas expectativas ante o social, pois segundo Greinacher “não é para deixar a responsabilidade da Igreja nas mãos  de seus servidores (clero) que o povo de Deus é o responsável pela Igreja”. Nesse prisma percebe-se que as Ceb’s de Sant’Ana têm essa responsabilidade nas lutas sociais de seu bairro como podemos perceber nos relatos de seus comunitários.
A força das Ceb’s de Sant’Ana acontece na luta, nas ações pastorais e nas parcerias comunitárias com a associação do seu Bairro AMBS (Associação de Moradores do Bairro de Santana), várias foram as conquistas dessa parceria, como relata Ércio do Carmo Santos (Ex presidente do Bairro, entrevista concedida em 15/04/2009)
No final dos anos 80 a 90, mas precisamente em 1991, quando entramos na diretoria da Associação, estava no calor dos movimentos populares inspirados pela Teologia da Libertação. Percebemos que era hora de lutarmos juntos igreja/associação por melhoria em nosso bairro tendo como pauta de reivindicações: Iluminação Pública, Posto de Saúde e Água no Bairro, onde na época o povo da região mais alta do bairro sofria com a falta de água. De inicio partimos para a questão da iluminação pública, que uma das necessidades do bairro, pois o mesmo estava crescendo e 90% do bairro era escuro e a Celpa que na época ainda era estatal, não atendia nossos pedidos resolvemos entrar com uma ação contra ela junto ao Ministério Público e para precisamos fazer um levantamento dos postes que tinham no bairro e que não funcionavam e assim reunimos um grupo de associados e fomos a campo, não foi fácil  íamos de poste em poste  a noite marcando o poste que não tinha lâmpada , que tinha lâmpada e não funcionava e onde não  nem poste  a luta foi árdua, mas precisávamos fazer esse relatório para levar no dia da audiência. A resposta veio  quarenta e cinco dias depois. A sentença foi favorável a bairro de Santana e os trabalhos de iluminação pública foram iniciados. Hoje pode-se dizer que o bairro de Santana é bem iluminado, mas ainda tem ruas que precisam ser mais iluminadas. Essa foi um luta social, que graças a organização de  nosso bairro conseguimos concretizar. (ÉRCIO DO CARMO SANTOS, entrevistado em 15/01/09)
Uma outra conquista realizada foi na questão do abastecimento de água que a parte mais alta do bairro sofria, por várias décadas, mostrando que CEB’s e movimentos sociais nessa comunidade foram bem atreladas como nos conta Ércio (entrevista concedida em 15/04/2009)
Foi por volta de 1994 , quando entramos com documento na Cosanpa para resolver a questão do abastecimento de água no bairro, onde a Cosanpa alegou não dispor de funcionários para fazer a limpeza das tubulações na área do Campo Canarinho, a associação entrou em parceria com a Cosanpa e o serviço foi realizado e o abastecimento nessa época foi melhorado, muito embora hoje ainda tenhamos problemas de abastecimento no bairro como em toda a nossa cidade, mas isso considero um avanço  muito grande , mostrando que somente organizados e unidos as conquistas serão concretizadas. (ÉRCIO DO CARMO SANTOS, entrevistado em 15/01/09)
Uma conquista que marcou a força dessa comunidade foi a construção do hoje Centro de Saúde do Bairro de Santana como nos relata Ércio Santos (entrevista concedida em 15/04/2009)

Ao longo dos anos o bairro foi se urbanizando, sua população aumentado e se tinha a necessidade de ter um posto médico no bairro, pois os atendimentos eram realizados apenas, no então Pronto Socorro Municipal e o povo começou a lutar para que o posto fosse construído, para atender não só o bairro de Santana, mas Santíssimo, Uruará e povo ribeirinho que aqui chegavam. No inicio foi construído  apenas um posto que funcionava precariamente com alguns remédios, que não supriam a demanda de sua comunidade. Foi no ano de 1997 que a Associação de Moradores de Santana entrou com um documento solicitando ao Governo Municipal a construção de um Centro de Saúde, hoje pode dizer que o atendimento no Centro de Saúde tem melhorado muito, o povo é atendido com dignidade, principalmente a partir dos serviços prestados pelas ACS (Agentes Comunitárias de Saúde), muito embora ainda faltem médicos especialistas para atendimento, assim como em toda a nossa cidade a saúde ainda deixa muito a desejar, mas considero que nossa comunidade avançou muito em suas lutas por melhor qualidade de vida de seus comunitários. Muito embora perceba  que a relação entre as CEB’s e a associação do bairro está um pouco adormecida, acredito precisamos somar forças, fazermos estudo mesmos nas CEB’s ,assim como refletimos os temas pastorais, para mostrar a importância  do povo na Associação de seu bairro e nos movimentos populares para que caminhem juntos nas lutas por melhorias no bairro. Pois as pessoas novatas que entram nas CEB’s ainda desconhecem que “Fé e a Vida” são duas palavras inseparáveis. É de fundamental importância se ter esse conhecimento para que o cristão se comprometa com a sua comunidade, uma vez que a igreja sempre atua nos movimentos populares. (ÉRCIO DO CARMO SANTOS, entrevistado em 15/01/09)
Figura 11 – Posto de Saúde em Santana
Pode-se dizer que hoje o bairro de Santana tem melhorado muito em sua infra-estrutura, pois além de possuir uma grande área geográfica tem uma base de liderança bem articulada, preocupada com o bem estar de sua coletividade, mas percebe-se que ainda falta mais participação de seus comunitários em sua associação, para que juntos possam somar nas lutas populares. Nesse contexto uma das forças das Ceb’s  acontece por meio da conciliação entre a oração (orar e agir), através do engajamento social dos comunitários na associação de seu bairro, conforme nos relata– Presidente da Associação de Sant’Ana  -AMBS, membro da CEb Emanuel .(29 de maio de 2009)
Associação de Moradores é uma entidade que luta, pelas melhorias no bairro, hoje mais do que nunca integrada com as Ceb’s de Sant’Ana, que nos dão muito apoio, estamos dessa forma conseguindo melhorar a infra-estrutura do bairro. Ao longo dos anos já tivemos muitas conquistas, muitas vitórias, mas infelizmente em nem toda reendivicação que fazemos somos atendidos, mas a luta continua, não podemos desanimar. Como liderança devemos estar a serviço da população. Na nossa gestão quando entramos tínhamos uma meta a ser alcançada para isso  foram feitos levantamentos de ruas que para que fossem feitas melhorias na infra-estrutura e foram  encaminhados através de oficio para a Prefeitura de Santarém, podemos ver como melhoria a Rua São Paulo e Uruará que estão hoje em condições de trafegabilidade, além do asfaltamento da Tropical e parte da Tocantins entre Rosas Passos e Dom Frederico. Vale ressaltar que essa foi uma luta também dos bairros vizinhos como Santíssimo e outros, principalmente com relação a Av. Tropical pois é uma via de acesso de um lado ao outro lado da cidade. (Wanderlei Lopes da Costa, 29 de maio de 2009)
Figura 12 – Av. Tropical, junho/2009. Fonte: Acadêmica
Para Wanderlei a promoção  humana e a defesa da vida, acontece quando o povo se organiza e luta pelo social, pelo coletivo e a Igreja , hoje tem esse compromisso cristão e social, nesse sentido:
As ceb’s são parcerias fortes na Associação, porque trabalham também o social e sempre estão atreladas com a associação, lutando e reivindicando melhorias no bairro, fortalecendo as nossas assembléias, pois entendo que as Ceb’s são forças que sustentam a nossa Igreja. E vejo como positiva a participação das CEB’s na Associação de Moradores. (WANDERLEI, entrevista concedida em 10/08/2008)

Muito embora perceba-se que ainda falta mais participação de seus comunitários em sua associação, para que juntos possam somar nas lutas populares como nos relata Wanderlei:
Podemos ver que a educação política ainda não chegou em cada cidadão, Todo cidadão tem o direito de participar em qualquer movimento social. E  Associação de Moradores é espaço que você tem de opinar e dar sugestões para melhorias no bairro, infelizmente as pessoas ainda não conhecem seus direitos e a força quem a Associação de um Bairro possui, pena que nem todos tem esse pensamento de querer transformar a realidade e lutar pelo bem comum. (WANDERLEI, entrevista concedida em 10/08/2008)
Outra força das CEB’s em Santana, é a formação das crianças e jovens para os sacramentos, através de uma catequese voltada para a formação cristã e também para a vida. Esse ano com o objetivo de acolher, conhecer, integrar e mostrar a importância das famílias das crianças e jovens que irão se preparar para os sacramentos, as Ceb’s realizaram visitas às famílias o que culminou com um grande encontro na igreja no dia 03 de junho como relata uma das coordenadoras da Catequese Infantil Elizabeth:
Ficamos felizes em ver as famílias participando desse momento em nossa comunidade, significa que estamos cumprindo com a nossa missão de evangelizar, pois acredito que é esse o papel das CEB’s, é muito bom quando vemos as famílias também envolvidas nas orientações de seus filhos, pois é isso que buscamos. (ELIZABETH, entrevista concedida em 15/08/2008)
Figura 13 – Encontro com as famílias dos catequisandos 03 de junho de 2009. fonte: Acadêmica
Segundo visitas às CEB’s, percebeu-se que as reuniões acontecem nas residências dos membros. Dessa forma a casa assim como foi para as primeiras comunidades cristãs é hoje o lugar de encontro, aberta aos vizinhos, amigos, irmãos, onde todos procuram conhecer-se mais e melhor, dividir os problemas e dificuldades à luz da Palavra, para encontrar caminhos que ajudem a transformar o sonho do Reino de Deus em realidade vivida por todos. Por isso, a casa na CEB será sempre o lugar de abastecimento da fé, onde todos renovam e revigoram suas forças e energias, para cumprir, no mundo o mandato de Jesus: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia!” (Mc 16,15). E assim como no inicio da Igreja os apóstolos logo foram se envolvendo com os grandes desafios sociais, econômicos, políticos, culturais, religiosos etc., misturando-se em todas as situações e realidades, para fermentar a massa com o fermento bom e transformador do Evangelho (cf. Mt 13,33). Nota-se que também seja esse o papel dessas pequenas comunidades na Igreja atual.
Nos encontros das CEB’s percebe-se que uma das características comuns  nas reuniões é a presença da Bíblia, a Palavra de Deus é a fonte de inspiração e reflexão para as temáticas discutidas nos grupos. O que no leva a crer que a espiritualidade é uma das místicas que envolve, que motiva e anima a caminhada das Ceb’s diante dos desafios na missão evangelizadora, na vida pessoal e na relação da fé com a vida.
Figura 14 – Reunião  na CEB Javé-sobre Cultura Indígena – julho /2009. fonte: Acadêmica
Outro aspecto característico das CEB’s é a forte presença dos comunitários nas celebrações, nas lutas sociais e nos trabalhos comunitários. Conforme nos relata a líder comunitária Goreth Pedroso:
Para o cristão comprometido a Fé vem vinculada com ação (cf.Tg.2,14). Muito embora vivamos em um mundo culturalmente descartável, onde a seriedade e o compromisso sejam considerados supérfluos e leva-se em conta que a Fé é exigente, desafiante. Ter fé é acreditar, viver, encarnar na realidade coerentemente, torna-se um grande desafio para vivê-la nos tempos atuais. Nesse contexto as Ceb’s  com são espaço de envolvimento e crescimento da fé, da vivência comunitária no relacionamento com Deus e com os irmãos, na busca constante do Reino de Deus. (GORETH PEDROSO, entrevista concedida em 15/08/2008)
Ao longo dos seus 60 anos de História na comunidade de Sant’Ana os trabalhos pastorais passaram a ser desenvolvido de forma conjunta a nível de Área Pastora e Diocese, possibilitando uma maior organização e envolvimento dos comunitários, sempre valorizando o leigo na efetivação de seus  projetos, sendo considerada uma das forças dessa comunidade a valorização das pessoas, o engajamento social e político a partir das Ceb’s.
Como liderança Sueli lembra um fato que marcou a história social das CEB’s, que foi a preocupação com a poluição dos rios e o meio ambiente, onde as CEB’s partiram para ação, após palestras, reflexões sobre essa temática:
Percebemos que era hora de colocar a “Fé” em “Ação” e  fomos fazer a limpeza  na frente do nosso bairro desde o Uruará até a Edifrigo, foi muito bom ver todos envolvidos em preservar o meio ambiente, mas percebo que ainda precisamos nos envolver mais com as questões sociais de nossa comunidade, pois muita coisa precisa ser melhorada. São poucas as pessoas de CEB que possuem essa visão de preocupação com o social, isso ainda precisa ser trabalhado na base, pois ao contrário o nosso bairro já teria outra “cara”. (SUELI CARVALHO COSTA, 44 anos, entrevista concedida em 25/03/2009)
Dona Sueli ainda ressalta a peculiaridade das Ceb’s:
Um outro aspecto considerado peculiar das CEB’s encontra-se nas liturgias dessa comunidade sendo bem dinâmicas e planejadas, para Sueli “essa é uma das preocupações das CEB’s e da equipe de liturgia, sempre procuramos fazer a inculturação, a partir da nossa realidade e dos temas refletidos na Campanha da Fraternidade, daí a relação da Fé com a vida sempre presentes em nossas celebrações”. (SUELI CARVALHO COSTA, 44 anos, entrevista concedida em 25/03/2009).
De acordo com a Pastoral da Comunicação -PASCOM uma das  dimensões da eclesialidade das CEB’ s encontra-se no  aspecto litúrgico, na qual celebram-se as “verdades da fé” não de forma desconectada dos grandes problemas da população: clama-se, denuncia-se, pede-se solução tanto para as grandes mazelas sociais quanto para as terríveis compulsões pessoais de hoje, mas também compromete-se, consagra-se, devota-se à luta para transformar tal realidade calamitosa. Não se ojeriza, na forma de celebrar, elementos oriundos das culturas ameríndias ou afro-brasileiras: são bem vindos na medida em que ajudam a inculturar o Evangelho na realidade do povo. Sendo dessa forma um novo jeito de “ser igreja”, o que caracteriza particularmente a caminhada das CEB’s.
Figura 15 – Missa dos Jovens , Pentecostes , com apresentação de dança afro-brasileira. Fonte: Acadêmica
Segundo a PASCOM a participação do leigo é o forte da comunidade. São homens, mulheres, jovens e crianças que se dedicam aos diversos serviços pastorais. As orientações catequéticas, as preparações dos sacramentos, as reflexões sobre a realidade são feitas nas CEB’s por essas lideranças. Percebe -se nesse aspecto a gratuidade no servir, a doação, a disponibilidade para os encontros de formação e dedicação na pastoral dessa comunidade. Outro ponto importante é a  presença de famílias se dedicando aos serviços comunitários, onde pai participa, a mãe e os filhos, nota-se aí o incentivo da base familiar no fortalecimento da fé na missão. Dessa o testemunho missionário deve ser uma postura nova de consciência eclesial de uma igreja que se dedica a testemunhar pelos seus serviços pastorais sendo seguidora de Jesus Cristo através de obras motivadas pela luz do Evangelho.
Figura 16 – Reunião da Ceb Fé e Esperança – Maio/2009. Fonte: Acadêmica
Uma das fraquezas da CEB’s da comunidade em análise é a tímida participação da juventude. Eles estão inseridos nas CEB’s e como tal têm o seu dia de celebração e também participam ativamente nas atividades sociais, embora se perceba que falta mais visibilidade.
Hoje, esse incentivo se dá através da Pastoral da Juventude – PJ e em nível de Área, pela JUFRA – Juventude Franciscana. O importante é que na comunidade eles têm vez e voz e como tal têm o seu dia de celebração, assim como as CEB’s e outros grupos, participam ativamente nas atividades sociais, mas percebe-se que ainda precisa-se resgatar os jovens que realizam o sacramento da Crisma, para que fiquem engajados e comprometidos na comunidade, essa sempre foi uma das preocupações dessa comunidade. Sabe-se que este ano em nível de Diocese Dom Esmeraldo Bispo de Santarém iniciou um chamado para essa juventude, através de um encontrão realizado em Maio/2009 no Ginásio do Colégio Dom Amando, a nível da Área “A” houve uma preparação para esse momento na sede do Standart’s  o que culminou com uma animada celebração de Pentecostes em Sant’Ana.
Acolher os jovens nessa comunidade sempre foi um desafio para essa comunidade, segundo Sueli Carvalho:
Ainda percebemos a pouca participação da juventude na comunidade, para isso estamos tentando inserir os jovens que saem da Crisma nas CEB’s e nos serviços na comunidade, essa é uma preocupação  que já faz alguns anos também a nível de diocese por  isso ,  acho muito importante incentivar as nossas crianças  a participarem das CEB’s , pois elas serão os jovens e os adultos do amanhã comprometidos com o projeto do Pai , dando o seu testemunho de vida. (SUELI CARVALHO COSTA, 44 anos, entrevista concedida em 25/03/2009)
Embora se perceba muitos jovens nas celebrações, a existência de apenas um grupo de jovens inserido nessa comunidade. Para Fatiane Evangelista, que participa do JOCUC – Jovens Cristão Unidos pela Comunidade, é motivo de continuar lutando, para que outros jovens despertem para a vida comunitária:
O JOCUC já existe a 18 anos nessa comunidade. Nos reunimos aos domingos à noite na igreja. Considero a participação dos jovens na comunidade muito importante, principalmente nas nossas reuniões, nos encontros de formação, nas celebrações e nas atividades culturais e sociais de nossa comunidade, pois temos o objetivo de despertar nos jovens o compromisso cristão. Sinto que falta mais participação da juventude, precisamos fazer visitas, chamar os jovens afastados, os jovens crismandos, para o fortalecimento da juventude no bairro no crescimento espiritual. (FATIANE EVANGELISTA, 20 anos, entrevista concedida em 20/08/2008)
O encontro com o outro, que possui os mesmos ideais de luta, de sonhos , é motivo de amadurecimento de perseverança, como nos relata a jovem Andria, que participa no JOCUC:
Vejo que ainda é pouca a participação do jovem em nossas reuniões e quero convidar mais jovens para o nosso grupo é muito importante participar de um grupo de jovens, nas CEB’s ou em qualquer grupo dentro da igreja é lá que temos a oportunidade de refletir os tema vindos da Diocese, que nos orientam para vida diante de tantos desafios que nós jovens enfrentamos na sociedade de hoje, onde precisamos nos manter firmes na nossa fé. No grupo também temos a oportunidade de coordenar as reuniões, existe muita animação, eu gosto muito de participar com outros jovens nessa comunidade. (ANDRIA, 17 anos, entrevista concedida em 20/08/2008)
      Figura 17 – Jovens na Celebração de Pentecostes/2009. Fonte: Acadêmica
Segundo Documento de Aparecida, (2007, p.198) a preocupação com os adolescentes e jovens são questões que devem ser integradas as atividades pastorais da Igreja, uma vez que constituem a grande maioria da população da America Latina e do Caribe. Representando enorme potencial para o presente e futuro da Igreja:
Merece especial atenção a etapa da adolescência. Os adolescentes não são crianças nem são jovens. Estão na idade da procura de sua própria identidade, de independência frente aso pais, de descoberta do grupo. Nessa idade, facilmente podem ser vítimas de falsos líderes  constituindo grupos. É necessário estimular a pastoral dos adolescentes, com suas próprias características, que garanta a sua perseverança e o crescimento na fé. O adolescente procura uma experiência  de amizade com Cristo.(DA, 442)
Dentre as linhas de ações da Igreja diante dos desafios que a juventude enfrenta nos tempos atuais, encontra-se , segundo o documento:
Estimular os Movimentos eclesiais que têm pedagogia orientada para à evangelização dos jovens e convidá-los a colocar mais generosamente suas riquezas carimáticas e missionárias a serviço das Igrejas locais.
A Pastoral  da Juventude ajudará os jovens a se formar de maneira gradual, para ação social e política e amudança de estruturas, conforme a Doutrina Social da Igreja, fazendo própria a opção  preferncial e evangélica pelos pobres e necessitados. (DA, 446)

Figura 18 – Apresentação da peça sobre a Paixão de Cristo pelos jovens-2009. Fonte: Acadêmica



CONCLUSÃO
É animador constatar ao longo dessa pesquisa, que em plena era do avanço da pós-modernidade, da globalização, da expansão do sistema virtual e do materialismo, que conduzem o ser humano para a competitividade, o consumismo, a descrença em Deus e desvalorização da vida, ainda existe grupos de pessoas que, iluminados pela “Luz da Palavra de Deus”, partilham objetivos comuns e se organizam na defesa por uma sociedade mais justa e igualitária, doando seu tempo para reuniões, estudos e ações solidárias.
Vários dados da pesquisa confirmam a profunda eclesialidade das CEBs, evidenciada pela freqüência dos comunitários às celebrações dominicais, às reflexões bíblicas e à participação nos ministérios comunitários e paroquiais. Nesse contexto confirma-se que o cristão comprometido com o projeto do Pai é aquele que junta- se às comunidades de base, com experiências de fé inseridas nas dimensões político- sociais e libertadoras. 
Percebeu-se que ao longo da história das CEB’s, essas pequenas comunidades, têm suscitando um grito profético, pois acredita-se que a missão do cristão tem uma dimensão que vai além da fé  e dos sacramentos. Nas CEB’s de Sant’Ana foi possível evidenciar esse atrelamento da comunidade com os movimentos sociais. Os resultados são satisfatórios visto que há uma organização pastoral planejada da Área A, que favorece o protagonismo dos leigos.
 Sabe-se que essa nova forma de ser Igreja acontece  a partir do Vaticano II , com as Conferências de Medellín e Puebla , quando foi conferido ao Cristianismo a  força de se fazer uma história diferente. Com essa abertura a Igreja Católica envolve-se novamente com o mundo e sua totalidade. Nesse sentido a fé cristã ganha espaço, tempo e lugar na história, perpassando o âmbito meramente subjetivo, como era visto no século XIX,  e ressaltando  a interpretação do Evangelho na sua dimensão sócio-.política.
A CEB é um lugar eclesial privilegiado para o exercício da comunhão. O próprio Documento de Aparecida a caracteriza como escola de discípulos missionários do Senhor que abraçam a experiência das primeiras comunidades, numa disposição que vai até à entrega do próprio sangue de muitos de seus membros. A opção preferencial pelos pobres é uma das peculiaridades que marca a fisionomia da Igreja latino-americana, aspecto também reafirmado no documento, uma vez que a defesa da dignidade humana é uma opção evangélica.
Todo esse dinamismo é analisado aqui como forças revitalizadoras da igreja, que renasce a partir do fortalecimento das comunidades eclesiais de base. Nelas os leigos tornam-se protagonistas do planejamento pastoral, recebem formação contínua e sentem-se valorizados no exercício dos ministérios. A força das Ceb’s de Sant’Ana acontece  nas ações pastorais e nas parcerias comunitárias, sobretudo com a associação de moradores do Bairro. Entre as conquistas obtidas foi constatado a iluminação pública, a construção do posto de saúde e  o abastecimento de água.
O compromisso libertador que prima pela transformação da realidade, constitui aqui um desafio e um ponto de fraqueza das CEBs em análise. A fé vivida nas celebrações, na leitura bíblica e na vida comunitária não se transforma, como afirma Leonardo Boff, “em princípio de contestação e de compromisso de libertação do homem todo e de todos os homens a começar com os objetivamente oprimidos de nossa sociedade capitalista”.  Esbarra-se no risco de setorializar o engajamento sócio-político dos cristãos, formando especialistas sobre o assunto e, desta forma, descompromissados com o restante da comunidade. Por outro lado, com freqüência, em contextos de reformulação ou reorganização paroquial ou diocesana, existe a tendência em priorizar as pastorais de “manutenção”.
Acredita-se que para construir uma Igreja missionária e servidora é necessário antes fortalecer a organização interna, o que necessariamente passa pela  renovação da estrutura paroquial, tornando-a muito mais missionária. Isto é analisado na pesquisa como uma fraqueza, que precisa ser transformada em desafio, pois partir de uma vida comunitária baseada em práticas sempre mais democráticas e participativas, evidencia-se o fortalecimento dos conselhos comunitários e paroquiais, lugares de valorização do ser humano.
Oxalá, essa pesquisa sirva de inspiração para todos aqueles que buscam entender a fé cristã professada na vivência comunitária e fraterna à serviço da evangelização que testemunha um experiência concreta de Jesus Cristo e que está comprometida com a defesa dos pobres e sua dignidade.
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HIPERTEXTO

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